PUBLICIDADE

Retirados de prédio acampam no centro

Famílias armaram barracos de madeira na Avenida São João após reintegração

Por Artur Rodrigues
Atualização:

Cerca de 230 famílias de sem-teto foram obrigadas a sair de um prédio na esquina das Avenidas Ipiranga e São João, no centro de São Paulo, após uma operação de reintegração de posse, na manhã de ontem. Após deixarem o local da ocupação, liderada pela Frente de Luta por Moradia (FLM), as pessoas armaram barracos de madeira a cem metros do prédio, na Avenida São João. Por volta das 7h30, o major da PM Marcos Antônio Felix entrou no prédio para iniciar o cumprimento da ordem. "Estamos identificando a melhor forma para não causar impacto e prejuízo maior para essas famílias", disse. Uma das coordenadoras do evento fez um discurso afirmando que a saída seria pacífica e criticou a Justiça, que concedeu reintegração de posse em favor da empresa Afim Brasil Eventos e Promoções. "Nossa resistência não é contra o policial, que é trabalhador, mas contra os criminosos que estão no poder", afirmou Carmen Silva.Mudança. As famílias começaram a abandonar o prédio às 8h. Enquanto alguns faziam discursos contra a Justiça e a Prefeitura, outros pegavam pedaços de madeira para a construção dos barracos na São João.Guardas-civis disseram que os barracos não poderiam ficar no local, mas ninguém havia sido retirado da área até a noite de ontem. Ao todo, são oito barracos sobre a calçada, perto da Galeria Olido. "Vamos ficar aqui, os que não couberem ficam do lado de fora. Não temos para onde ir", disse Carmen.Quatro caminhões foram oferecidos pela Afim Brasil Eventos e Promoções para que os pertences das famílias fossem retirados. Durante a madrugada de ontem, porém, a maioria dos objetos de valor já havia sido transportada para outros prédios ocupados pela FLM. O imóvel da São João é apenas uma das oito ocupações mantidas pela organização no centro, onde vivem cerca de 1,2 mil famílias.O prédio, no número 628, havia sido ocupado em 6 de novembro. É um imóvel de três andares, no qual funcionava um bingo. O local tem estruturas abaladas, muitas fiações improvisadas e goteiras.Rotina. Desde as 22h de anteontem, o Estado acompanhou os preparativos da saída. Responsável pela segurança do local, Gilvan Souza da Silva, de 26 anos, já está acostumado a mudanças. "Nos últimos três anos, passei por oito reintegrações." Já a manicure Carliane Mendes da Costa, de 25, veio de São Luís (MA) em busca de emprego e só foi atrás do movimento porque o aluguel era caro demais. "Engravidei e vim atrás de uma moradia. Já passei por três desocupações", diz.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.