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Restaurantes têm série de arrastões na zona oeste de São Paulo

Em um intervalo de 16 dias, pelo menos três locais foram alvo de ladrões na Vila Madalena e em Pinheiros, área boêmia da capital paulista. Abordagens ocorrem à noite, em dia de semana, e têm como principal objetivo levar celulares dos clientes

Por Felipe Resk e Paula Felix
Atualização:

Em um intervalo de 16 dias, ao menos três restaurantes sofreram arrastão na Vila Madalena e em Pinheiros, área boêmia da zona oeste de São Paulo. Os assaltos em série – realizados à mão armada, em dia de semana e sempre à noite – ligaram o sinal de alerta da Polícia Civil, que há tempos não registrava ocorrências assim na região. Os agentes investigam se os casos têm relação ou se foram praticados por diferentes grupos.

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Três bandidos participaram do arrastão na Fradique Coutinho Foto: NILTON FUKUDA / ESTADÃO

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O ataque mais recente foi na quarta-feira: três bandidos armados invadiram o Chá Yê!, especializado em chá na Rua Fradique Coutinho, em Pinheiros, por volta das 23h40. Havia menos de dez clientes no local, segundo as investigações do 14.º Distrito Policial (Pinheiros) responsável pelas ocorrências.

Como em situações anteriores, os criminosos levaram celulares das vítimas. Para a Polícia Civil, o aparelho é o principal alvo, uma vez que a maior parte dos pagamentos é feita com cartão e os caixas não movimentam muito dinheiro em espécie. O Estado esteve no restaurante, mas ninguém quis falar.

No dia 29, quatro assaltantes – pelo menos dois deles armados – dominaram clientes e funcionários do Mensa, na Rua Wisard, Vila Madalena. Eram 20h30 e havia seis mesas ocupadas. Um bandido teria entrado antes para solicitar um lugar. Depois, os outros chegaram e anunciaram o assalto. “Colocaram a arma em um funcionário e obrigaram a limpar o caixa”, conta uma vítima. O Mensa Restaurante não se manifestou.

A série de ataques começou na noite do dia 22, no Boca de Ouro, bar da Rua Cônego Eugênio Leite, em Pinheiros. Lá, foram três bandidos – e havia cerca de 20 clientes. Primeiramente, os assaltantes, dois com armas nas mãos, perguntaram se, entre os frequentadores, havia algum policial. Em menos de cinco minutos, roubaram cerca de R$ 200 do caixa e pegaram celular, bolsas e joias.

“Para a gente, a região estava tranquila, não havia nenhuma notícia de crime do tipo”, diz Renato Martins, proprietário do estabelecimento. “Por causa do assalto, instalamos câmeras em vários lugares e contratamos um segurança.”

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Investigação

Só o Chá Yê! tinha sistema de monitoramento, segundo a Polícia Civil. Os investigadores suspeitam que algum assaltante que já tenha sido preso esteja articulando os ataques – no primeiro semestre de 2011 a região sofreu uma onda de arrastões. Por isso, testemunhas têm sido chamadas para analisar fotos de suspeitos que já foram fichados e fazer reconhecimento.

Uma das dificuldades, disseram os agentes ao Estado, é que nem todas as vítimas registram ocorrência ou vão ao distrito para contribuir com a investigação. Em nota, a Secretaria da Segurança Pública informou que 211 pessoas foram presas em flagrante na região este ano, e a Polícia Militar está intensificando o patrulhamento na área.

Histórico

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Em julho de 2011, cerca de 30 clientes do Empório Alto de Pinheiros, na zona oeste, foram roubados por quatro homens armados durante um jogo do Brasil. Na época, os arrastões em restaurantes e bares era uma modalidade de crime que se tornava frequente. Um dos sócios do estabelecimento, Paulo Almeida diz que preferiu não fazer mudanças no local após a ocorrência. “Os bares vizinhos contrataram seguranças, mas continuamos com o nosso segurança civil sem armas. A gente tem de ocupar a cidade e viver em sociedade”, diz. “Se a gente tiver de se trancar inteiro, é melhor fechar.”

No mesmo ano, em fevereiro, o restaurante La Trattoria, em Pinheiros, foi alvo dos criminosos. O local já tinha câmeras e, após o arrastão, contratou segurança particular. “Até porque caiu o movimento”, diz Adriana Bozoni, uma das sócias.

Presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Percival Maricato diz que os casos em restaurantes ocorrem em menor quantidade. “É uma gota d'água no oceano. Há cerca de 60 mil estabelecimentos em São Paulo”, diz. “Raramente esse tipo de quadrilha tem futuro, porque há câmeras e muita gente vê.”

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Depoimento - Vítima de um dos assaltos

'Passaram em todas as mesas'

“Estávamos jantando entre amigas quando, por volta das 20h30, quatro homens, dos quais dois estavam armados – um com revólver e outro com uma pistola –, entraram no restaurante. Os assaltantes pediram para que os funcionários deitassem no chão da cozinha e para que os clientes colocassem sobre a mesa carteiras e celulares e não reagissem. A ação deve ter sido rápida, mas o tempo demorou para passar. Não houve agressão física, mas ameaças verbais. Os ladrões passaram em todas as mesas levando pertences pessoais, limparam o caixa e roubaram bebidas.”

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