Resgate de barco começa em janeiro na Antártida

Mar Sem Fim naufragou em abril, após forte tempestade; operação vai envolver cem pessoas e prazo dependerá de condições do clima

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Por Bruno Paes Manso
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Nove meses após naufragar na Antártida, o jornalista João Lara Mesquita, de 56 anos, ex-diretor da Rádio Eldorado, começa sua viagem de regresso ao extremo sul do globo terrestre para cumprir sua parte no pacto com o continente gelado: resgatar do fundo do oceano o barco Mar Sem fim, que repousa a uma profundidade entre dez a 12 metros na Baía de Fields, perto da Ilha Rei George. O Mar Sem Fim naufragou no dia 7 de abril, depois que a tripulação - integrada por Mesquita e mais três pessoas, que gravavam um documentário sobre a região - sucumbiu a uma forte tempestade, com ventos que atingiram 150 km/h. "Trabalhei todo este ano para viabilizar o resgate do barco. É um compromisso moral que preciso cumprir", diz o jornalista.Como a Antártida é um dos locais mais inóspitos e remotos do mundo, desde a assinatura do Tratado da Antártida, em 1959, que garantiu o livre acesso de pesquisadores ao continente, todos aqueles que se aventuram em desbravar os mares gelados se comprometem a não deixar nada para trás: nem lixo, nem comida, nem as estruturas para abrigar pesquisadores ou mesmo embarcações que afundam.Clima. A operação para resgatar o Mar Sem fim começará no dia 7 de janeiro e deve envolver cerca de cem pessoas. Não há prazo definido para terminar, já que depende das condições climáticas da região, sempre imprevisíveis. Se tudo der certo, a previsão é de que seja encerrada ainda no fim de janeiro.O submarino Felinto Perry, da Marinha brasileira, especializado em resgate de embarcações naufragadas, vai ajudar na tarefa. Uma equipe de mergulhadores chilenos também foi contratada para a ação e já vem trabalhando no levantamento de informações que vão orientar as ações do grupo. "Esse é um tipo de trabalho em que a gente acaba tendo muita ajuda voluntária e solidariedade de pessoas de diferentes nações que estão na Antártida comprometidas em preservar o ambiente", explica Mesquita.O plano de reflutuação do Mar Sem Fim consiste, em um primeiro momento, em vedar os três compartimentos da embarcação - proa, parte do meio e traseira do barco.Em seguida, mergulhadores acoplarão grandes boias nas laterais do barco e levarão mangueiras de ar comprimido para encher de ar as boias e o interior do barco. É assim que o Mar Sem Fim deve vir à tona. "Desde que o barco afundou, ele pouco se mexeu no fundo do oceano. Ainda fizemos uma vistoria e pudemos ver que não tem nenhum furo, o que vai facilitar o trabalho", diz o jornalista.Reboque. Depois de resgatado, o Mar Sem Fim será rebocado para Punta Arenas, no Chile, onde deve ser cortado e vendido. Os gastos para se recuperar um barco que ficou tanto tempo debaixo d'água inviabilizam a tentativa de manter o Mar Sem Fim na ativa. Uma das preocupações de Mesquita é com o combustível. Quando afundou, o barco tinha 8 mil litros de diesel no tanque. Segundo pesquisadores que ficam nas bases vizinhas ao naufrágio, o combustível ficou encrustado no gelo que o cercava e acabou sendo levado para longe da Baía de Fields. "Não deve haver mais combustível no tanque. Mas levaremos equipamento para contenção", diz.A aventura de Mesquita deve render um documentário emocionante. Serão mostradas a viagem e o naufrágio, além das filmagens do resgate. Mesquita diz ainda que tem um livro pronto na cabeça.

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