SÃO PAULO - Moradora do Jardim Horizonte Azul, região periférica no extremo sul da capital paulista, a doméstica Ana Silva, de 50 anos, lê pouco e escreve pouco. Natural do interior do Ceará, teve de dividir o tempo da escola com a roça, onde plantava milho e feijão. Cursou só até a 2.ª série.
Os problemas que dona Ana enfrenta com a educação são outros. Vizinha da Escola Estadual Professora Amélia Kerr Nogueira, na Avenida dos Funcionários, ela reclama da insegurança e de transtornos na região. “A partir das 19 horas, a rua fica tomada de jovens. Eles fumam e se drogam aqui na esquina. Ninguém faz nada”, comenta. Os assaltos frequentes também fazem com que ela perca o sono. “E temos de ficar calados.”
A área da Escola Estadual Professora Amélia Kerr Nogueira tem o pior IDHM de São Paulo, com 0,625, inferior até ao IDH do Iraque (0,642). Entre os indicadores usados no cálculo, o que teve maior impacto foi justamente a escolaridade, cuja importância subiu de 27%, em 2000, para 30% em 2010.
Dos problemas apontados pelos moradores, a insegurança é recorrente. “Qualquer um entra lá, nem se respeita professor”, diz a mãe de um ex-aluno. “Os professores não ensinam nada”, afirma a estudante Fernanda Oliveira, de 20 anos. A última troca na diretoria foi há um mês.
Em nota, a Secretaria Estadual da Educação informou que as ações pedagógicas da unidade estão sendo acompanhadas por uma equipe de supervisores.
Outro extremo. Já o estudante de Design de Games Lucas Mirkai, de 20 anos, faz planos de morar fora do País. Ele estuda na Faculdade Anhembi-Morumbi, na região que tem IDHM de 0,965 - superior ao da Noruega (0,944). “Minha ideia é ir trabalhar no Canadá”, conta. Para isso, o planejamento é juntar dinheiro no ano que vem, quando se forma, e já sair da casa onde mora com os pais com destino ao exterior em 2016.