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Reformas deixam 'novatos' sem sala na Câmara de SP

Dos 28 parlamentares que assumiram no dia 1º, 24 enfrentam obras nos gabinetes; alguns não têm telefone nem computador

Por Diego Zanchetta
Atualização:

É em uma sala ampla e quase vazia, sem computador nem telefone, que o vereador Marquito (PTB), de 52 anos, tem recebido repórteres, assessores e fãs. O humorista enfrenta o mesmo problema que outros 24 parlamentares. Dos 28 novos vereadores, só Jair Tatto (PT), Orlando Silva (PCdoB) e Rubens Calvo (PMDB) não enfrentam obras em gabinetes. Marquito, um dos raros novatos que têm dado expediente no recesso de janeiro da Câmara Municipal de São Paulo, entrou na vaga do agora secretário de Esportes, Celso Jatene (PTB), dono da mobília que ocupava o gabinete. "O Celso levou os móveis. Nada mais justo. E ele é delegado, eu sou humorista, quero dar alegria para o gabinete. Vamos reformar tudo", diz o assistente de palco do apresentador Ratinho e sobrinho de Raul Gil.Por todos os corredores do Palácio Anchieta, pedreiros, eletricistas e técnicos tentam atender aos desejos de parlamentares que chegaram no dia 1.º de janeiro. Vale tudo para tentar retirar o "DNA" anterior da sala. "Vem aqui no dia 20 de janeiro que você vai ver tudo novo. Vou colocar fotos minhas, da minha família, vai ter mesas novas. Pode esperar algo bem diferente do que vocês já viram", avisa Marquito. Laércio Benko (PHS) foi ainda mais radical que o humorista. Ele ocupou o gabinete que foi por oito anos do cantor Agnaldo Timóteo (PR). O local, antes com as paredes pintadas de imagens do rosto do cantor, está todo em reforma, com uma única mesa - até o teto e o piso da sala estão sendo substituídos. Segundo a assessoria de Benko, a sala de Timóteo, que ocupava mais da metade do gabinete, vai ser transformada em três espaços de reuniões e na sala do próprio vereador. Alguns gabinetes seguem fechados, à espera de nova mobília e de computadores, como os dos tucanos Andrea Matarazzo e Eduardo Tuma, ambos no quarto andar. Na sala do coronel Telhada (PSDB), tudo também segue em reforma. Seus assessores têm apenas dois computadores para atender o público. Servidores e guardas-civis da Casa têm procurado o coronel nos últimos dias para pedir melhorias na segurança do prédio, como a instalação de detector de metais nas entradas principais. Reis (PT) é outro que optou por reforma completa e pediu um gabinete com "salas abertas e visíveis para todos" - o espaço que foi do médico Milton Ferreira (PSD), não reeleito, lembra um consultório médico de "tão fechado", segundo funcionários que faziam ontem à tarde obras no local. Nabil Bonduki (PT) também está com o gabinete em funcionamento parcial, com pequenos reparos em andamento.Por causa das obras e da falta de estrutura nos gabinetes, a maior parte dos novatos não tem permanecido no Legislativo. A exceção que tem surpreendido funcionários e outros vereadores veteranos é justamente o humorista Marquito. Ontem, ele quis fazer o registro de suas digitais para usar nos votos em plenário. "Não vou faltar, vou ser uma pessoa presente dia e noite. Quero que as pessoas me vejam aqui como um vereador. Lá fora eu sou o palhaço. Tenho duas personalidades, igual aquele Clark Kent do Super-Homem, sabe?", brinca o vereador, que não se incomoda com a falta de telefone e de computador em sua sala. Dos 18 assessores que pode nomear, faltam dez. "Vocês não sabem o tanto que vou lutar por mais médicos nessa cidade", completa.O presidente da Câmara Municipal, José Américo (PT), afirmou ontem que a Mesa Diretora vai atender a todos os pedidos de reforma de gabinete feitos pelos parlamentares que assumiram no dia 1º de janeiro. Entre os 55 vereadores paulistanos, 28 são novos - 22 foram eleitos e seis entraram como suplentes.Ao todo, 25 novatos solicitaram que fossem realizadas obras em seus gabinetes."Mas, se o vereador quiser fazer uma reforma com dinheiro do bolso dele, também não há problema", ressaltou o presidente da Câmara. "Se ele pedir para a Casa, pedimos para alguma empresa que já está contratada para executar o serviço", explicou o petista.Américo voltou a dizer que a volta do recesso, no início de fevereiro, será marcada pelo debate sobre o projeto do Executivo que acaba com a taxa da inspeção veicular. / D.Z.

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