Redução do ritmo de aquecimento é discutida

Desaceleração do aumento da temperatura global mobilizou atenções em Estocolmo, no primeiro dia de conferência de mudanças climáticas

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Por Andrei Netto
Atualização:

ESTOCOLMO - Pesquisas indicam que 97% dos cientistas que estudam mudanças climáticas no mundo estão convencidos da responsabilidade do homem no aquecimento global. Mas foram os 3% de céticos que pautaram o primeiro dia de debates da 6.ª edição do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), aberta ontem em Estocolmo.Mais uma vez encurralados por críticas, os experts tiveram de explicar que a redução do ritmo de aquecimento da Terra, de 1998 a 2010, não altera a certeza de que as mudanças climáticas são causadas pelas emissões de gases de efeito estufa.O chamado "hiato" da curva de aumento da temperatura foi diagnosticado pelos próprios cientistas do Grupo Intergovernamental de Experts sobre a Evolução do Clima (GIEC), que integram o IPCC. Foram eles que incluíram a informação no documento em discussão entre experts e delegados de 195 países em Estocolmo. "A média global de temperatura, combinada com as superfícies de terra e oceano, indica um aumento de 0,89ºC de 1901 a 2012. No período, quase todo o globo tem experimentado o aquecimento da superfície", diz o rascunho do relatório, ao qual o Estado teve acesso.Um segundo ponto de críticas está no fato de que o IPCC reviu para baixo a estimativa mínima de aquecimento da Terra até 2100. No trecho em que quantifica as respostas dos sistemas climáticos às emissões de gases de efeito estufa, os experts afirmam ser "alto o grau de certeza" que a temperatura da Terra subirá entre 1,5ºC e 4,5ºC até 2100. Esse patamar de base de 1,5ºC é inferior ao estimado há seis anos, quando do relatório anterior do painel. Então, a estimativa era de 2ºC.Ataque. Apesar dos argumentos, os "negacionistas" - cientistas que negam o aquecimento - vêm usando os dados para atacar o IPCC em países como Austrália, Canadá, Reino Unido e Estados Unidos.Ao jornal Los Angeles Times, a climatologista Judith Curry, diretora da Escola de Ciências da Terra e da Atmosfera do Instituto de Tecnologia da Geórgia, e até 2001 membro do IPCC, afirmou que o "hiato" seria, na verdade, "a variação natural do clima dominando sobre o impacto humano".Esse discurso foi refutado com veemência ontem, em Estocolmo. Logo na abertura do evento, o coordenador do IPCC, Rajendra Pachauri, foi taxativo: "As provas científicas das mudanças climáticas se reforçam ano após ano, deixando poucas incertezas, além de graves consequências".

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