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Raiva e tristeza na formatura sem festa

1,5 mil foram para recepção, mas bufê não apareceu; em acesso de ira, menina rasgou vestido

Por VALÉRIA FRANÇA
Atualização:

A estudante Taís Rodrigues Sanzoni, de 18 anos, passou a tarde de sábado em um salão de beleza. Gastou R$ 150 para fazer o cabelo e a maquiagem para o baile de formatura que ocorreria naquela noite no Espaço Internacional de Guarulhos, na Grande São Paulo. Antes mesmo de ficar pronta, sua mãe ligou avisando que não haveria festa. A empresa contratada para fazer a recepção para 1,5 mil formandos do ensino médio e de faculdades, a Lilitty Eventos, desapareceu. O salão estava com as portas fechadas. Taís começou a chorar. Com o rímel borrado e aos soluços, teve um acesso de raiva e rasgou o vestido, que lhe custou R$ 280 - a irmã de 3 anos iria ao baile com um modelo igual. Ontem, pelo menos 30 pais de formandos foram depor no 63.º Distrito Policial, na Vila Jacuí, na zona leste, que investiga o caso de suspeita de estelionato. "Como os alunos receberam parte do pacote combinado - a colação de grau e a viagem -, achei que talvez não fosse um caso de má-fé, que poderia ter acontecido algo com a empresa", diz Marcel Druziane, delegado responsável pelo caso, que ontem mandou uma intimação no endereço oficial da Lilitty, na Vila Ré, também na zona leste."Os vizinhos informaram que a empresa se mudou há seis meses para a Vila Jacuí. No segundo endereço, ninguém nunca ouviu falar da Lilitty. Já começa a se configurar um caso de má-fé", diz o delegado. Playcenter. O representante da empresa, Antônio Carlos Batista, conhecido pelos formandos como "tio Fio", foi indiciado a prestar esclarecimentos hoje na delegacia. "Tudo foi tratado com ele", explica a estudante Michele Costa das Neves, de 17 anos. "O Tio Fio sempre foi a ponte entre a escola e todos os passeios que já fizemos, até para o Playcenter. Só que, antes, ele trabalhava para outra empresa de eventos." Segundo o delegado, Batista terá de fornecer o paradeiro da dona da empresa. No sábado, Batista compareceu à delegacia com os formandos e foi liberado. "Ele chegou a devolver o dinheiro de dois convites que minha mãe comprou no sábado, de última hora, no valor de R$ 140, que estavam ainda no bolso. Mas foi só isso", conta Taís. Batista não foi encontrado pela reportagem. Indenização. O caso também já chegou à Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor de São Paulo (Procon-SP), que enviou uma notificação à empresa de eventos em questão. "Os alunos devem ser indenizados. Além de tudo que pagaram pela festa, devem receber também os outros gastos, como aluguel de vestido e cabeleireiro", diz Paulo Arthur Góes, diretor executivo do Procon-SP. "É importante que todos os comprovantes com os gastos para a festa sejam guardados, para que depois cada um dos formandos possa receber o dinheiro de volta." Michele pagou, no total, R$ 1.550, divididos em 10 vezes. O pacote incluía a colação de grau, uma viagem de cinco dias para Porto Seguro (BA) e o baile de formatura. "As duas primeiras partes do pacote deram certo. Na viagem, cheguei a ficar doente e eles me levaram ao médico. Ninguém esperava que isso fosse acontecer", conta. Segundo Michele, a festa devia ter acontecido no dia 31 de março, quando foi cancelada com antecedência. "A empresa disse que nesse dia haveria um show do Luan Santana no espaço. Então, remarcou para o último sábado." Os gastos. Para o baile, os gastos foram grandes. Só para ver a filha pronta para a festa, a mãe de Michele, a copeira Neideana da Costa, de 37 anos, pagou R$ 380 pelo aluguel do vestido, R$ 80 por um par de sandálias e R$ 150 no cabeleireiro. Ainda arrumou mais R$ 220 para alugar o terno do filho e de um amigo, que dançaria a valsa com Michele. O evento movimentou a família inteira."Até meu tio foi cortar o cabelo no dia da festa", diz Michele, que está inconformada com o que aconteceu. "Se os responsáveis pela empresa não tiverem como ressarcir os formandos, podem ser obrigados a restitui-los com o patrimônio particular dos sócios", diz Góes, do Procon.

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