Rádios ilegais tentavam desviar rotas de trens em SP, diz PF

Interferência ocorria no sistema de comunicação da empresa de logística ALL, na região de Ourinhos

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Por Solange Spigliatti
Atualização:

A Polícia Federal identificou, na última sexta-feira, mais de 15 estações de rádio ilegais em Ourinhos, interior de São Paulo, capazes de invadir o sistema de comunicação da América Latina Logística (ALL) e enviar falsas ordens aos maquinistas da linha férrea, desviando a rota dos trens e colocando os passageiros e moradores da cidade em risco. Gravações feitas pela PF mostram a interferência de operador particular de radioamador na operação de deslocamento dos trens e vagões que cruzam a área urbana da cidade, por onde trafegam diariamente quase 500 mil litros de álcool combustível e outros 250 mil litros de materiais inflamáveis. Segundo informações da Agência Brasil, o vice-presidente da Liga de Amadores Brasileiros de Rádio Emissão de São Paulo (Labre-SP), José Armando de Macedo Soares Júnior, "essas pessoas são criminosas, não deu para entender qual era a intenção delas", afirma. Ele explica que as interceptações foram feitas por equipamentos de uso de radioamadores, mas quem os utilizava não pode ser considerado radioamador. "Para ser um radioamador, é preciso atuar apenas dentro da faixa estabelecida pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). Mesmo tendo autorização, se utilizar a comunicação fora da faixa, é considerado clandestino", diz. A Labre está auxiliando a Polícia Federal nas investigações, fazendo a intermediação das informações entre os radioamadores locais e as autoridades policiais. "Existe uma lei do silêncio na cidade, a pessoa que aparece nas gravações exerce grande influência ou temor nos moradores", diz Júnior. Para ele, ações como essas prejudicam a imagem dos radioamadores junto à sociedade. Em trechos da gravação da interferência um homem reclama do apito do trem, que passa próximo à sua casa, e faz ameaças aos operadores. O clandestino não se intimida nem ao ser informado de que as conversas estavam sendo gravadas e seriam analisadas pela Polícia Federal. Durante a conversa, o operador da empresa alerta para o risco de um acidente por causa das interferências. De acordo com o delegado responsável pela Operação Linha Cruzada, José Navas, foram identificadas interferências procedentes tanto de equipamentos clandestinos quanto de autorizados. Durante o processo de fiscalização foi identificada uma estação de recepção de dados via sinais de rádio efetivamente operando em uma freqüência destinada a Marinha do Brasil, podendo ser alocada por esta e pela Anatel para o Serviço Móvel Marítimo, tão somente. O equipamento não tinha homologação da Anatel e operava sem licença desta Agência e da Marinha do Brasil. O serviço da estação foi imediatamente cessado e o equipamento apreendido. A Polícia Federal de Marília está ouvindo dezenas de pessoas que podem estar envolvidas na comunicação clandestina. Os equipamentos foram enviados para a perícia e o delegado deve pedir a prorrogação do prazo de 30 dias estabelecido para a conclusão do inquérito. De acordo com Navas, a Operação Linha cruzada prossegue sob sigilo. (Com Agência Brasil)

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