
12 de setembro de 2011 | 00h00
Nos anos 1950, o Diário Popular era um jornal maçudo, de ralo conteúdo, lido não pelo que noticiava, mas pelos empregos que anunciava em anúncios minúsculos. Expressava a grande mudança que estava ocorrendo no mercado de trabalho. Desde o início da industrialização, no final do século 19, os empregos do proletariado que nascia eram conseguidos por ouvir dizer, frequentemente através da intermediação de parentes e conhecidos. As empresas preferiam dar emprego a alguém já ligado a algum de seus empregados, não raro de uma mesma família. O mercado de trabalho era, assim, atravessado pelas regras da moral de família. Disfarçado meio, aliás, de controle social sobre as chamadas classes perigosas.
Com o tempo, surgiu a placa do "Precisa-se" nas portas das fábricas, com espaços para encaixe das tabuinhas com os nomes das profissões. Sempre uma pequena multidão na porta das empresas, com a carteira de trabalho na mão para ser recolhida e examinada pelo encarregado da secção de pessoal. Que, aliás, tinha curiosos critérios para decidir a quem recrutar. Prestava atenção em gestos e posturas dos candidatos ali na rua. Não recolhia a carteira de quem estivesse encostado na parede, sinal de gente "cansada", comodista, dizia a improvisada psicologia dos recrutadores.
Lorca, nessa fotografia, fez um instantâneo expressivo da vida dos paulistanos que dependiam do suor do rosto para ganhar o pão nosso de cada dia. A dos que corriam logo cedo para as portas do jornal para conseguir um dos primeiros exemplares, pois Deus ajuda quem cedo madruga. Depois, de bonde ou de trem, disparavam para a porta das empresas que haviam anunciado vagas nos minúsculos anúncios do jornal. Quem chegasse primeiro tinha mais chance de conseguir o emprego do que quem chegasse por último. Os últimos serão os primeiros? Banana, macaco!
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