
25 de janeiro de 2013 | 02h13
da última chacina.
Somos todos cúmplices
do próximo disparo.
Anchieta, do alto do pátio:
"Ah terrível bombardada
Da morte espantosa!
Como vem guerreira
E temerosa!"
Uns, acordam para a notícia:
a noite em dados urgentes.
Números frios, outrora vida,
agora, nus, indiferentes.
Maneco grita do largo:
Cavaleiro das armas escuras,
Onde vais pelas trevas impuras
Com a espada sanguenta na mão?
E a noite segue calma
para quem se esconde,
segue jorrando sangue
para quem não há onde.
Mário prevê noite e dia:
dentro de muros sem pulos
Mais uma volta
na fechadura
blinda a vida
contra revoltas
ou idas.
Oswald anuncia a soidão:
Anoitece sobre os jardins
Jardim da Luz
Jardim da Praça da República
Jardins das platibandas
Noite
Noite de hotel
Chove chuva choverando
Nada é mais noite (e chuva)
do que noias sob o teto
do absurdo viaduto
triste projeto infecto.
Nada é mais chuva (e noite)
do que choro de viúva
sobre o corpo rígido
podridão indiferente.
Haroldo entrevê nas ruas:
enquanto
de lugares absolutos
debaixo dos viadutos
transeuntes exsurtos das cor de urina
vesperais latrinas
das sentinas dissolutas
caminham
Hoje nada não
nem se comemora,
nem poesia,
nem memória.
Hoje a cidade
(seus mortos)
chora.
Décio cria a palavra chave:
cadaverdade
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