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Queixa-se o poeta de sua cidade no seu aniversário e recebe ajuda dos seus poetas mortos

Por FREDERICO e BARBOSA
Atualização:

Somos todos vítimasda última chacina.Somos todos cúmplicesdo próximo disparo. Anchieta, do alto do pátio:"Ah terrível bombardadaDa morte espantosa!Como vem guerreira E temerosa!" Uns, acordam para a notícia:a noite em dados urgentes.Números frios, outrora vida,agora, nus, indiferentes.Maneco grita do largo:Cavaleiro das armas escuras,Onde vais pelas trevas impurasCom a espada sanguenta na mão? E a noite segue calmapara quem se esconde,segue jorrando sanguepara quem não há onde.Mário prevê noite e dia:dentro de muros sem pulos Mais uma voltana fechadura blinda a vidacontra revoltasou idas.Oswald anuncia a soidão:Anoitece sobre os jardinsJardim da LuzJardim da Praça da RepúblicaJardins das platibandas NoiteNoite de hotelChove chuva choverando Nada é mais noite (e chuva)do que noias sob o teto do absurdo viadutotriste projeto infecto. Nada é mais chuva (e noite)do que choro de viúvasobre o corpo rígidopodridão indiferente. Haroldo entrevê nas ruas:enquantode lugares absolutosdebaixo dos viadutostranseuntes exsurtos das cor de urinavesperais latrinasdas sentinas dissolutascaminham Hoje nada nãonem se comemora,nem poesia, nem memória.Hoje a cidade(seus mortos)chora. Décio cria a palavra chave: cadaverdade

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