PUBLICIDADE

Quatro meses após assassinato, falta de iluminação põe em risco segurança na USP

PM e universidade assinaram convênio para ampliar policiamento no local, mas escuridão nas ruas do campus persiste e preocupa; reitoria promete melhora na iluminação

Por Jair Stangler
Atualização:

Na noite do dia 18 de maio, um crime chocou a Universidade de São Paulo (USP). O estudante Felipe Ramos de Paiva, 24, foi assassinado no estacionamento da Faculdade de Economia e Administração (FEA), vítima de latrocínio - roubo seguido de morte. A comoção causada pelo crime levantou o debate: como melhorar a segurança na Cidade Universitária?

PUBLICIDADE

Na época, o governador Geraldo Alckmin propôs que a Polícia Militar atuasse com mais vigor dentro da USP. No dia 8 de setembro, a PM e a USP assinaram um convênio para que isso efetivamente ocorresse. Na ocasião, o secretário de Segurança de São Paulo, Antonio Ferreira Pinto, lamentou que esse "avanço" só tenha ocorrido "depois de uma tragédia que ceifou a vida de um jovem estudante".

Nem todos concordam, no entanto, que a medida seja, de fato, um avanço. Enquanto muitos acreditam que a maior presença da polícia irá diminuir a criminalidade na Cidade Universitária, outros temem a repressão policial. Uma questão, no entanto, une toda a comunidade acadêmica: é preciso melhorar a iluminação do campus, que ameaça a segurança dos estudantes, funcionários e professores que frequentam o campus diariamente. Segundo a reitoria, há um projeto em andamento para melhorar a iluminação no campus.

A presidente do Centro Acadêmico Visconde de Cairu, Maíra Madrid, 22, da FEA, palco da tragédia de maio, avalia que a sensação de segurança na área aumentou nos últimos quatro meses, com maior presença de policiamento. Para ela, isso ocorre porque, após o crime, a FEA passou a ser mais visada. Apesar disso, ela cobra melhora na iluminação e alerta: "Tem outros pontos críticos aqui na universidade". Entre esses pontos, ela cita como a Escola Politécnica, as faculdade de Física, Química e Odontologia.

Na Odontologia, não foi difícil encontrar quem confirmasse o diagnóstico de Maíra. As estudantes Ingrid Bruno e Erica Patricia, ambas com 24 anos, foram enfáticas ao afirmar que não se sentem seguras no campus e defenderam o aumento do efetivo policial. Segundo elas, ali, ao contrário da FEA, não mudou nada após a morte de Felipe.

As duas fizeram uma série de críticas às restrições que a comunidade acadêmica tem à presença da PM dentro do campus. "Quando eles conseguiram tirar a PM do campus, na época da ditadura, foi uma conquista. Mas hoje em dia não tem mais contexto", avalia Ingrid.

Erica critica principalmente os estudantes das sociais e das humanas, onde haveria mais indisposição a essa presença. "Acho que eles são contra por causa do uso de drogas, mais essa ideologia e mais o fato de, se tiver polícia, essas rebeliões, esse negócio de 'ah, vamos invadir a reitoria', não vai mais ter a facilidade que tem", fuzila.

Publicidade

"Quando invadiram a reitoria a gente foi lá xeretar. Eles invadem e quebram as coisas. Tinha várias coisas quebradas", acrescenta Ingrid. "Estava todo mundo deitado, fumando maconha e tocando violão", emenda Erica.

Elas fizeram criticas também ao fato de os acessos da USP serem abertos a maior parte do tempo - com restrições à noite e durante o final de semana. A principal crítica é ao portão que dá acesso à favela São Remo, que fica próximo à Odontologia e ao Hospital Universitário. Segundo as estudantes, é dali que vêm muitos dos que praticam furtos nesta área.

"Na minha opinião", diz Ingrid, "tinha que fechar esses portões". "Universidade é para quem estuda", pondera. "Para a comunidade, a gente atende aqui, tem atendimento à comunidade. As pessoas podem vir de qualquer lugar. Mas acho que tinha que ter uma identificação na portaria central", acrescenta. "Eles falam que tem que dar acesso ao hospital, usam o hospital. Mas quem tem que usar o hospital pode dar a volta e entrar pela entrada principal como todo mundo", diz Erica.

As estudantes afirmam que é comum o furto de materiais, notebooks e estepes de carros e de dentro do prédio da Odontologia. Contam que todo mês a segurança da Odontologia manda um relatório das ocorrências na faculdade. "É só para avisar", ironiza Erica. "Os seguranças da faculdade zelam pelo patrimônio da faculdade. Se você parar o seu carro, roubarem, se acontecer algum assalto, eles não tomam nenhuma atitude", afirma.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Sobre estupros, Erica diz que "só se sabe quando o negócio ficou grave". "Se foi um só e a menina não falou muito, ninguém sabe. Só sabe quando tem aquela onda", comenta. Segundo elas, a rua do Matão é um dos lugares mais perigosos. "É muito escuro. Quem faz Biologia, a essa hora, deve estar apavorada", diz a doutoranda Ana Paula Candido, 31, que acompanhou a conversa.

Segundo a reitoria, no entanto, não há estupros no campus há cinco anos. Erica afirma que não é verdade. "Em 2007 teve dois estupros na rua do Matão. Foi na época que a gente estava tendo aula lá, por isso que a gente sabe. Quem informou foi uma professora do instituto de Biologia, que nos orientava a não andar sozinha por ali à noite", disse. A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo não soube informar quantas ocorrências de estupro foram registradas neste período no campus da USP.Texto atualizado às 18h23 do dia 19/9/2011 para acréscimo de informações

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.