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Quando o barulho das escolas de samba atormenta os vizinhos

Reclamações subiram 160% desde o meio de 2008; protestos têm a ver com a localização

Por Mônica Cardoso
Atualização:

Quando começam os primeiros repiques da bateria, dando início ao ensaio, os vizinhos das escolas de samba já sabem: serão horas de barulho. Desde a metade do ano passado, as reclamações aumentaram 160%. Nesse período, a Prefeitura de São Paulo recebeu 39 queixas contra escolas de samba. No ano passado, houve 15. A campeã de reclamações é a Nenê de Vila Matilde, na zona leste.  Veja também: Cobertura completa do carnaval 2009 Blog: dicas para quem quer curtir e para quem quer fugir da folia Especial: mapa das escolas e os sambas do Rio e de SP    A quadra fica em um local tranquilo e residencial. Aos domingos, a escola treina a evolução nas ruas. A reportagem conversou com várias pessoas que não quiseram se identificar. "É muito barulho. E a área fica uma sujeira", diz uma senhora que mora há mais de 20 anos na rua. "Mas se colocar meu nome, depredam minha casa." O presidente da Nenê, Alberto Alves da Silva Filho, diz ter feito um acordo com os moradores. "Nos últimos dez anos, não fazemos ensaios após as 23 horas." A Império de Casa Verde, na zona norte, é vice-líder em reclamações. Tanto que a aposentada Maria de Lurdes Alves, de 56 anos, decidiu se mudar. A casa, recém-pintada de laranja, exibe a placa de "vende-se". "Não imaginava que fosse tanto barulho, até de madrugada." Outra vizinha diz fechar as janelas para não ouvir o batuque. A amiga dela afirma que o pior são "os fogos da madrugada". "Minha neta não dorme." A escola diz nunca receber queixas. "A vizinhança frequenta os ensaios", afirma Rogério Gonçalves, assistente administrativo da Império. Na Bela Vista, região central, a quadra da Vai-Vai é rodeada por edifícios residenciais. O presidente da escola, Edmar Thobias, diz que poucos reclamam. Indagado se os ensaios terminam na hora, ele responde que "às vezes" ultrapassam o horário. Segundo Thobias, a escola ganhou da Prefeitura, em dezembro, um terreno na Rua Condessa de São Joaquim. "Mas para executar o projeto (de mudança) dependemos do caixa." "Gosto de samba, mas aqui é impraticável", diz Célia Bueno, de 70 anos, dona de um apartamento de frente para a quadra. "Não posso receber meus netos aos domingos. Mantenho as janelas fechadas e mesmo assim não consigo falar ao telefone nem ver TV." Ela diz já ter consultado um otorrino, por estar perdendo a audição. "A cidade cresceu" Os protestos estão diretamente relacionados aos locais das escolas. A Rosas de Ouro, cuja quadra fica na Marginal do Tietê, por exemplo, não recebe reclamações. "A cidade cresceu e os locais residenciais onde ficam as quadras se tornaram impróprios para ensaio", diz o secretário das Subprefeituras, Andrea Matarazzo. As reclamações ao Programa de Silêncio Urbano (Psiu) devem ser feitas, de preferência, antes dos ensaios - quando uma equipe é enviada ao local. Matarazzo disse que a Prefeitura quer construir a Fábrica de Sonhos para reunir as escolas em um terreno perto do Sambódromo - ali, cada escola teria 5 mil m².

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