Vida de estudante. Abundância de colégios se reflete no dia a dia do bairro: nos horários de entrada e saída de alunos, o trânsito fica caótico
Nenhuma região de São Paulo tem tantas instituições de ensino particulares como a Vila Mariana - são 95, entre colégios e faculdades. "Acabei organizando toda a minha vida em função do bairro", comenta o professor de Educação Física Edgard Morelli, que atualmente leciona em três colégios, mas já deu aulas também em outros, sempre na mesma região.
"É bom porque uni o útil ao agradável. Adoro a vida na Vila Mariana e tenho meus amigos sempre próximos. Para mim, o lado bom de um bairro é justamente as amizades que ele proporciona."
Não à toa até o Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo (Sieeesp) fica no distrito - mais especificamente na Vila Clementino. "Sem dúvida que a proximidade com as escolas pesou para que nossa sede ficasse nesse endereço", diz o vice-presidente, José Augusto de Mattos Lourenço, que mora em Pirituba.
A abundância de colégios reflete-se no dia a dia do bairro. Basta o ano letivo começar - em geral no início de fevereiro - para o trânsito se tornar mais caótico nos horários de entrada e saída dos alunos.
"É bom morar perto da escola dos filhos. Facilita muito a organização da rotina", afirma a empresária Maria Cecília Dias, que mudou para o bairro há 9 anos, justamente quando sua filha mais velha, Beatriz, entrou em idade escolar. Agora a tarefa diária de levar e buscar os filhos - ela tem dois - é dividida entre os vizinhos. "A gente se organiza. Cada semana é a vez de um levar e buscar. Assim contribuímos para um trânsito melhor, somos ecologicamente corretos e ainda reforçamos os laços de amizade."
A praticidade não fica só do lado dos pais. Professores também amam o bairro. Principalmente se juntam o papel de professor ao papel de pai. "É claro que matriculei meus filhos em colégios da região", conta Morelli. "E a vantagem de organizar a vida no bairro não se resume às escolas: a Vila Mariana tem bons hospitais, ótimos supermercados, toda uma estrutura bacana."
Análise. Para Lourenço, do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo, a proximidade entre as escolas é um fator que facilita tanto para os profissionais quanto para os clientes - pais e alunos. "Se preciso, os professores conseguem dar aulas em várias escolas, sem perder muito tempo no deslocamento", comenta. "Para os pais, há a possibilidade de pesquisar, com facilidade, metodologias e preços diferentes. E a escola escolhida não ficará longe de casa."
A empresária Maria Cecília concorda. "Quando resolvi mudar minha filha Beatriz de escola, não tive de mudar meus horários, pois o tempo para levá-la e buscá-la se manteve praticamente o mesmo", conta. "E, para ela, nem houve trauma: os amiguinhos continuaram próximos."
Concentração. E como o Sieeesp lida com a informação de que também está no local de maior concentração de escolas particulares?
"Para ser sincero, eu não sabia que era aqui que estava o maior número de escolas particulares de São Paulo", conta o vice-presidente. "Mas não estou surpreso, não. A percepção visual que a gente tem, só de passar pelo bairro, é que realmente tem bastante escola."
No Grajaú, o recorde de escolas públicas
São 80 em todo o distrito, onde estudam 109 mil alunos e onde as carências entristecem professores
A maior concentração de escolas públicas do município fica no Grajaú, distrito da zona sul com 444 mil habitantes. São nada menos que 80, sendo 57 estaduais, onde estudam 109 mil alunos.
Idealistas, muitos professores da região usam as salas de aula para conscientizar alunos sobre carências e problemas sociais na região.
"A São Paulo deles é o Grajaú", resume o professor de Geografia Jucinaldo Souza Azevedo. "Procuro mostrar que o bairro poderia ser outro, ser melhor. Mostro as diferenças socioeconômicas dentro da cidade e a situação do Grajaú, que, sem empregos, tornou-se bairro-dormitório."
Muitos professores se queixam do abandono da região. "É muito triste. Na escola onde dou aula não tem nem esgoto. É na fossa mesmo", conta o professor de Educação Física Luiz Carlos Silva. "E há alunos que riscam o carro, quebram vidro do carro do professor."
"Perdemos a maior parte do tempo tentando trabalhar conflitos na turma", afirma Jucinaldo. "Para piorar, trabalhamos em uma região onde o crime organizado controla até as escolas. E a gente fica lá, à mercê de tudo isso."
Já a também professora de Geografia Maria Helena de Carvalho tem uma visão mais positiva. "Me sinto em casa no bairro", conta ela, que enfrenta 40 minutos diários de trânsito para chegar à escola. "E não tenho nenhum receio de andar por lá. Trabalhar nessa região é um privilégio. Ali, ao mesmo tempo em que há um grupo muito carente, tem um pessoal com educação muito boa. Acho que vem da família. E a relação com a comunidade é bacana."
Questionada sobre os problemas apresentados, a Secretaria de Estado da Educação informou que o limite de alunos por sala varia conforme a série, mas nunca ultrapassa 45, e algumas escolas realmente não têm esgoto e usam fossas.
Educação privada
1º Vila Mariana
2º Santana
3º Ipiranga
4º Santa Cecília
5º Consolação
6º Saúde
7º Lapa
8º Santo Amaro
9º Tatuapé
10º Liberdade
Educação pública
1º Grajaú
2º Cidade Tiradentes
3º Sapopemba
4º Campo Limpo
5º Itaim Paulista
6º Jardim Ângela
7º Cidade Dutra
8º Capão Redondo
9º Sacomã
10º Santo Amaro