Quando decidiu abrir um restaurante fora da região central de São Paulo, em 1971, o restaurateur italiano Giancarlo Bolla ouviu um deboche: "Tá ficando louco, Giancarlo?" Com todas as grandes casas no centro, por que se arriscar no então distante Itaim-Bibi? "Oras", ele dá de ombros, sentado na sala de reuniões de seu La Tambouille, que completa em julho 40 anos: "Ficava entre os Jardins e o Morumbi, a clientela estaria garantida."
O pioneirismo não poderia ter sido mais acertado: hoje com 520 restaurantes funcionando, o Itaim-Bibi é o distrito com mais opções gastronômicas da capital. E, se no começo havia apenas algumas lanchonetes, com o desenvolvimento do bairro o padrão das casas começou a subir. Hoje, é impossível circular por ali sem reparar na quantidade de opções oferecida.
O primeiro tido como "de alto padrão" a ser aberto no bairro foi justamente o La Tambouille, de Bolla. "Era um bairro de casas e sobrados, mas tinha muito potencial para expandir. O Shopping Iguatemi chegou alguns anos antes, havia casas noturnas como a Hippopotamus, os clientes moravam por perto."
A consolidação do Itaim como reduto de restaurantes veio na década de 1990, quando sedes de empresas começaram a chegar à região, como explica Sérgio Arno, dono de cinco restaurantes no distrito - entre eles o tradicional La Vecchia Cucina.
"Difícil que isso um dia mude. É um bairro charmoso, cada portinha para a rua, um restaurante diferente", resume Arno.
Em 1 dos 3 restaurantes de Perus, uma aula de história
A ideia era construir no extremo norte da capital um restaurante "padrão Vila Madalena". Se fosse possível contar a história local, melhor ainda. Pois a professora Vera Alice Valgas, de 44 anos, conseguiu unir as duas pontas: nas paredes do restaurante que abriu em 2007 em Perus - distrito com menos opções gastronômicas em São Paulo - pendurou objetos que contam boa parte da história do bairro onde vive há quatro décadas. E o movimento não para de crescer.
Pudera: o distrito é um deserto na imensidão gastronômica da capital. Há apenas três restaurantes registrados em Perus. "Percebemos a lacuna e resolvemos investir em um público que curte MPB e se interessa por atrações culturais."
Vasculhando álbuns de moradores, Vera levantou relíquias. Nas paredes, pendurou fotos de 1940 da fábrica de Cimento Portland, da Ferrovia Perus-Pirapora, do dia em que a luz elétrica chegou ao bairro, em 1954. "Para que viajar quilômetros para comer?", questiona a professora. "É preciso acreditar na clientela do bairro."
Desde 2007, o Café Expresso Perus (trocadilho com a ferrovia) conquista público crescente. Por dia, serve cerca de 60 refeições - há três anos, eram 15.
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