Protesto reúne 4 mil estudantes. E já atrai políticos

Nº de manifestantes contra aumento do ônibus dobra em relação à última passeata e faz movimento chamar mais a atenção de partidos

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Por Paulo Saldaña e Renato Machado
Atualização:

Pela terceira semana consecutiva, manifestantes contrários ao reajuste da tarifa de ônibus de R$ 2,70 para R$ 3, válido desde o dia 5, tomaram as ruas de São Paulo. Na tarde de ontem, cerca de 4 mil manifestantes - o dobro do protesto da semana anterior, segundo a Polícia Militar - marcharam do Teatro Municipal até a Câmara dos Vereadores, no centro. Não houve confrontos.O presidente da Câmara, José Police Neto (PSDB), recebeu os manifestantes na calçada, na frente do Palácio Anchieta. Netinho, como é conhecido, comprometeu-se com o grupo a marcar audiência pública sobre o valor da passagem e convocar, como pedem os manifestantes, o secretário dos Transpores, Marcelo Cardinale Branco. "O que posso garantir é a audiência e o diálogo com a Casa. A presença do secretário é outra coisa", disse. A data será definida na quarta-feira. Ontem, a passeata recebeu mais gente e também novas bandeiras de entidades partidárias e estudantis. Até então distantes da organização das passeatas, PSTU, PSOL, PT, PC do B e União Nacional dos Estudantes (UNE) estavam presentes. Segundo a integrante do MPL Nina Capelo Marcondes, de 21 anos, o movimento é "livre" e apartidário, embora não imponha restrição de participação. "Teria sido melhor que todos estivessem desde o começo, antes do aumento, mas que bom que eles apareceram agora", comentou ela, estudante da USP.Os manifestantes caminharam pacificamente pelas ruas do centro, com gritos de ordem e faixas de protesto. Próximo da Avenida Ipiranga, eles queimaram um boneco do prefeito Gilberto Kassab (DEM).Encabeçados pelo Movimento Passe Livre (MPL), composto em sua maioria por estudantes, os protestos vêm ganhando corpo a cada semana. No dia 13, manifestação com cerca de 500 pessoas, também no centro, acabou com 26 detidos depois de violento confronto entre estudantes e a polícia. A segunda passeata, no dia 20, levou cerca de 2 mil pessoas para a Avenida Paulista. Mobilização. A luta contra os aumentos na tarifa de ônibus é um ponto de convergência nas manifestações dos estudantes, em uma época em que a categoria não sai às ruas contra, por exemplo, a má qualidade do ensino. "O tema qualidade do ensino é muito vago. Hoje se fala mais em dificuldades no acesso ao ensino e isso envolve o transporte", diz o cientista político Marco Antonio Teixeira, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que destaca a importância das redes sociais na organização dos protestos. O Movimento Passe Livre foi criado há cinco anos, na tentativa de obter passagens gratuitas para estudantes. Suas maiores ações, no entanto, acontecem após o anúncio de reajuste das tarifas de ônibus em diversos municípios brasileiros (veja destaque acima). Na capital paulista, os primeiros protestos aconteceram após o reajuste de janeiro de 2010. Como o valor estava congelado desde 2006, a participação foi pequena e teve pouca visibilidade.Enquanto isso, o movimento ganhou fama em várias capitais. Como os protestos terminavam muitas vezes em confrontos, muitas prefeituras preferiam anunciar os reajustes em janeiro, durante as férias escolares, na tentativa de minimizar a repercussão.LÁ TEM...ConfrontosO Movimento Passe Livre tem unidades em diversas cidades, como Aracaju, Curitiba, Porto Alegre, Florianópolis, Recife e Salvador. Os anúncios de reajuste das tarifas costumam ser automaticamente seguidos por protestos desses grupos e terminam em confrontos. Em Florianópolis, em maio, a polícia usou balas de borracha e os estudantes (cerca de 2 mil) depredaram orelhões.

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