Protesto contra tarifa acaba em caos, fogo e depredação no centro

Em 2 horas, manifestantes foram do Anhangabaú à Consolação, interditando Paulista, 23 de Maio e 9 de Julho; PM usou bombas e balas de borracha; 50 pessoas ficaram feridas e 15 foram detidas

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Por Redação
Atualização:

Um protesto contra o aumento das passagens do transporte público levou caos ontem à região central de São Paulo em pleno horário de pico. Protegidos por barricadas de fogo, cones e lixo, manifestantes fecharam as Avenidas Paulista, 23 de Maio e 9 de Julho, depredaram as Estações Consolação, Trianon-Masp e Brigadeiro do Metrô, além de um acesso da Vergueiro, e destruíram lixeiras e novos pontos de ônibus que foram encontrando pelo caminho. Pelo menos 50 pessoas ficaram feridas, segundo organizadores, incluindo o fotógrafo do Estado Daniel Teixeira.

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A Polícia Militar usou bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo e balas de borracha contra manifestantes, que responderam com pedras. Ao menos 15 haviam sido presos até 23h, entre eles o presidente do Sindicato dos Metroviários, Altino Prazeres (veja ao lado).

Liderado por estudantes universitários e secundaristas do Movimento Passe Livre (MPL), o vandalismo começou às 18h30 na frente da Prefeitura, no Viaduto do Chá. Em menos de uma hora, o grupo que em cartazes prometia parar São Paulo já havia fechado as principais avenidas do entorno. Encapuzados colocavam sacos de lixo no meio das vias e ateavam fogo. Ônibus foram pichados e viaturas da São Paulo Transporte (SPTrans), destruídas, assim como um coletivo no Terminal Bandeira.

Com a chegada da polícia, por volta das 19h, começou o confronto no Vale do Anhangabaú, com pedras de um lado e gás lacrimogêneo e balas de borracha de outro. A Polícia Militar estimou em 2 mil o número de manifestantes e a Guarda Civil Metropolitana, em mil. Organizadores falaram em 5 mil.

Após o confronto no centro, o grupo se dividiu e parte dos manifestantes se deslocou para a Paulista. A via chegou a ser bloqueada totalmente nos dois sentidos às 20h. Viaturas e motos da PM acompanharam os manifestantes, que voltaram a atear fogo em objetos no meio da avenida. Alguns depredavam bares, arrancavam fios de energia e jogavam pedras na polícia. Postes do canteiro central ficaram às escuras e guaritas da PM, no meio da via. As Estações Brigadeiro e Trianon-Masp tiveram os vidros dos acessos quebrados e os muros pichados. Na Consolação, passageiros tentavam se proteger do gás das bombas da polícia que invadiram as plataformas de embarque. Na Vergueiro, um segurança ficou ferido. As portas foram fechadas preventivamente, para evitar riscos a usuários. Em nota, o Metrô disse que vai calcular os prejuízos causados pelos manifestantes e estudar formas de responsabilizá-los.

O protesto ainda causou um dos piores índices de congestionamento do ano. Às 19h, havia 160 km de lentidão - a média é de 138 km. As vias só foram totalmente liberadas pela Tropa de Choque por volta das 21 horas. Às 21h45, os manifestantes já haviam se dispersado.

Repercussão. O prefeito Fernando Haddad (PT) acompanhou a manifestação de seu gabinete. A assessoria informou que Haddad está aberto ao diálogo. Já o governo do Estado informou que não se manifestaria porque o ato se referia à "passagem de ônibus municipal".

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No centro, trabalhadores se dividiram em relação ao protesto. O porteiro Jorge Rossi de Oliveira, de 41 anos, que mora em São Miguel Paulista e pega dois ônibus por dia para chegar ao centro, aprovou. "Alguém tem de reclamar nessa vida. A gente aguenta todos os aumentos quietos, sem fazer nada. Tá certa a molecada."

Já o lojista Rodolfo Bodelacci, de 36, reclamou da maneira como os protestos aconteceram. "Foi assustador. Ouvimos barulho de bombas e gritos. Preferi ficar esperando no trabalho em vez de voltar para casa nessa confusão", afirmou.

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