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Promotoria vai apurar falta de extintor em túneis

Prefeitura teria deixado de repor equipamentos furtados, com o argumento de que câmeras podem alertar o Corpo de Bombeiros em caso de incêndio

Por Rodrigo Burgarelli
Atualização:

O Ministério Público vai abrir inquérito hoje para investigar a falta de extintores de incêndio nos túneis de São Paulo. Para a Promotoria, as normas técnicas que determinam que túneis de grande extensão devem ter equipamentos do tipo não vêm sendo cumpridas. O motivo seria a falta de reposição, pela Prefeitura, dos equipamentos roubados. O problema do furto de extintores é antigo. Mas, segundo o MP, a Prefeitura teria deixado de repor os equipamentos nos últimos anos, alegando que as câmeras de vigilância instaladas nos túneis poderiam alertar o Corpo de Bombeiros quando um incêndio começasse. Assim, a necessidade dos extintores de incêndio seria minimizada. O Corpo de Bombeiros, no entanto, baixou instrução técnica em 2001 alertando para a necessidade de se manter equipamentos do tipo em túneis com mais de 200 metros para garantir a segurança em caso de incêndio. A recomendação também consta em norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que determina que deve haver um extintor disponível a cada 30 metros. Dos 19 túneis existentes na cidade, apenas dois têm menos de 200 metros. Apesar disso, é difícil encontrar extintores funcionando. Ontem, o Estado percorreu os seis principais túneis do centro expandido - Ayrton Senna, Jânio Quadros, Fernando Vieira de Mello (Túnel da Rebouças), Anhangabaú, Max Feffer e Tribunal de Justiça (na Avenida Juscelino Kubitschek) - e não encontrou nenhum extintor disponível. No Fernando Vieira de Mello, até os compartimentos reservados para mangueiras de incêndio estavam vazios. Perigo. Especialistas alertam para a importância dos equipamentos, principalmente nos túneis mais extensos, como o Ayrton Senna (1.950 metros), que liga as Avenidas 23 de Maio e Antonio Joaquim de Moura Andrade, na zona sul, e o Jânio Quadros (1.900 metros), entre a Avenida Juscelino Kubitschek e a Ponte Cidade Jardim, na zona sul."Não dá para retirar os extintores só por causa dos furtos. Eles são equipamentos importantes para dar combate ao incêndio quando ele ainda está começando, e isso pode salvar a vida de alguém que está preso nas ferragens (em caso de acidente de carro)", diz o pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) José Carlos Tomina. Segundo ele, não há uma saída fácil para o problema dos furtos, mas um estudo mais aprofundado poderia indicar soluções menos drásticas do que a falta de reposição do equipamento. Já o engenheiro Anthony Brown, coordenador da ABNT para sistemas de proteção contra incêndio em túneis, diz que a falta de extintores é preocupante, mas crê que o maior problema é o estado das câmeras de vigilância. "Não há câmeras suficientes e a manutenção é precária. Mas temos de levar em conta que o risco de acidentes nesses túneis são pequenos, já que a velocidade é controlada e a maioria tem direção única", disse.Secretaria. Por meio de nota, a Secretaria de Coordenação das Subprefeituras, responsável pela manutenção dos túneis, se colocou à disposição do Ministério Público para prestar todas as informações solicitadas. No entanto, negou que tenha deixado de fazer a reposição e afirma que instala novos extintores sempre que necessário. Segundo a administração municipal, o problema dos furtos é recorrente e a pasta está elaborando um projeto para combatê-lo.Além disso, a secretaria afirmou que tem um plano operacional em casos de emergências, que conta com monitoramento de câmeras da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) durante 24 horas por dia. Em caso de acidentes ou eventualidades, as viaturas da CET - que têm extintores extras - são acionadas, e, se necessário, outros órgãos, como o Corpo de Bombeiros, a Polícia Militar e a Defesa Civil.PARA ENTENDEREquipamentos chegam a custar R$ 400O furto de extintores de incêndio é algo recorrente na cidade. Como o preço é alto (extintores de 20 kg, usados em grandes imóveis ou equipamentos públicos, chegam a custar R$400), os equipamentos acabam sendo comercializados no mercado paralelo, levados a ferros-velhos e vendidos como sucata ou mesmo aproveitados em construções. Outro alvo recorrente são os fios de cobre que fazem a ligação das lâmpadas de iluminação nos túneis. As câmeras de monitoramento também são usadas para flagrar esses ladrões.

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