PUBLICIDADE

Promotor skatista resgata jovens carentes no interior de SP

Cansado de ‘enxugar gelo’, Enilson Komono, da Vara da Infância e da Juventude, coordena cinco projetos na cidade de Bauru

Por Alexandre Hisayasu
Atualização:

SÃO PAULO - Desde a adolescência, o promotor Enilson Komono queria ajudar jovens carentes a trilhar um caminho fora da criminalidade. Quando entrou no Ministério Público, em 1999, viu que o trabalho de fiscal da lei apenas punia o infrator – e nada mais. “Enxugava gelo, pois o menor voltava a praticar crimes”, diz.

Komono atua na Vara da Infância e da Juventude desde 2003. Lá, passou a se interessar por projetos sociais ligados à prevenção do ingresso de adolescentes na criminalidade.

Rodinhas do bem. Escolinha de skate, onde Komono é professor, atende 120 crianças Foto: Divulgação

PUBLICIDADE

Até que, em 2009, após várias experiências como voluntário, investiu no trabalho solidário e hoje coordena cinco projetos assistenciais à população carente, na região de Bauru, no interior de São Paulo.

O primeiro projeto começou com um galpão comprado com dinheiro do próprio bolso. Komono, que também é skatista, aproveitou o tempo em que não estava na Promotoria e construiu uma pista de skate. “A construção demorou nove meses. No final, amigos vieram me ajudar.” No lugar atualmente funciona uma escolinha de skate com dois turnos: de manhã para 70 crianças e à tarde, para 50. A faixa etária vai dos 6 aos 15 anos. Komono é um dos professores.

O projeto ganhou nome de Wise Madness (sábia loucura) e foi reconhecido como organização não governamental (ONG) em maio de 2011. São 31 funcionários registrados e 30 voluntários, entre assistentes sociais e médicos. A ação também atende cem crianças do bairro Otavio Rasi, no Núcleo Rasi, na periferia de Bauru. 

O Wise Madness leva ainda apresentações de street dance, hip-hop e break para escolas carentes de Bauru. A iniciativa chamou a atenção de outros Estados, e o grupo já fez shows no Paraná, Santa Catarina e no Rio. “No dia 6, o grupo vai até Mariana, em Minas Gerais, trabalhar nas praças e nas escolas da cidade. Eles se apresentarão para as vítimas (da enxurrada de lama da barragem da mineradora Samarco)”, diz. 

Novos projetos. No ano passado, a Wise Madness assumiu a gestão de uma Casa Abrigo destinada a atender crianças em situação de risco. Hoje, a casa cuida de 15 jovens, de 2 meses a 16 anos, vítimas de abuso sexual, violência física e abandono, que têm pais presos ou usuários de drogas. 

Publicidade

“Projetos como esse são firmados com convênio pela prefeitura, que cuida da parte financeira, pagando os funcionários e os gastos básicos. Mas isso não é suficiente para tocar todo o projeto, por isso arrecadamos dinheiro promovendo jantares, pasteladas, rifas e festas, e colocando dinheiro do próprio bolso mesmo”, conta Komono.

Um dos grandes desafios para 2016 é tocar projeto próprio de ressocialização de moradores de rua e dependentes químicos. O promotor e a mulher, a arquiteta Noemi Yasuraoka Komono, herdaram o projeto de outra ONG, que fechou por má administração de recursos, e fizeram um trabalho de reestruturação junto com um casal de amigos.

O local funciona numa chácara e atende dez pessoas atualmente. Conta com horta e atendimento psicológico, e os internos também trabalham na chácara. No mesmo terreno, eles estão construindo uma nova pista de skate. “O galpão, felizmente, ficou pequeno. Então começamos a construção com objetivo de inaugurar no final de 2016. Será uma pista profissional, maior que a anterior.”

Creche. Agora em janeiro, Komono espera realizar mais um sonho – acalentado já há quatro anos. Em 2012, ele e a mulher compraram um terreno com dinheiro próprio, com a intenção de construir uma creche, em fase final da obra. “Formamos a associação em 2013 e, no ano seguinte, graças às doações, começamos a construção”, afirma ele.

O lugar vai atender cem crianças de 0 a 6 anos divididas em quatro classes e será gratuito.

Para o promotor, a inspiração de tocar tantos projetos assistenciais vem do aprendizado cristão de estender a mão ao próximo. “A grande recompensa é acompanhar uma criança chegando ao abrigo toda desestruturada emocionalmente, machucada, e sair de lá com o sorriso nos lábios. Aqui, nós vemos o resultado do nosso esforço.” 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.