
07 de dezembro de 2011 | 23h17
SÃO PAULO - Com o apoio do prefeito Gilberto Kassab (PSD), o vereador e ex-presidente da Câmara Municipal Antonio Carlos Rodrigues (PR) apresentou ontem projeto de lei que autoriza o fim da função dos 15 mil cobradores de ônibus de São Paulo. Se aprovada, a proposta permite que o trabalho de cobrança de passagens passe a ser atribuído aos motoristas contratados a partir de 2012.
Esse é o primeiro projeto que tenta modificar uma polêmica lei de 2001 que blindou a função de cobrador. A regra prevê que todos os coletivos da cidade tenham um funcionário para auxiliar o motorista a orientar os usuários e fazer cobranças quando necessário.
Um dos argumentos para a mudança é de que hoje apenas 8% dos usuários de coletivos municipais pagam as passagens com dinheiro - todos os outros usam o bilhete único, criado em 2004.
Ligado aos donos das viações de ônibus, Rodrigues disse que o fim dos cobradores visa a reduzir os custos operacionais apontados pelo próprio Sindicato de Motoristas e Cobradores.
Em maio, a entidade havia fechado acordo com os empresários do setor para acabar com a função de cobrador, realocando os funcionários para outras funções. O acordo não estipulou uma data - apenas a obrigação de um adicional de função de R$ 250 para os motoristas. Agora, novos motoristas já poderão acumular a função de cobrança assim que o projeto for aprovado.
"Não tem nada de pressão de empresário, é apenas uma readequação de funções", argumentou Rodrigues. Pelo projeto, os cobradores devem ter preferência nas seleções na contratação de novos motoristas.
A previsão é que o texto seja analisado hoje na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). A reportagem não conseguiu contatar representantes do Sindicato dos Motoristas e Cobradores.
Kassab. Líderes governistas afirmavam desde segunda-feira que o prefeito queria um projeto para colocar fim aos cobradores. Apesar de fazer oposição a Kassab, Rodrigues aceitou apresentar a proposta para agradar seus aliados dentro das empresas de ônibus. Oficialmente, o governo nega que tenha articulado a apresentação da proposta.
O Estado apurou também que os donos das viações pressionam Kassab pelo fim dos cobradores desde 2009. Mas o prefeito sempre alegou que não poderia assinar um projeto com essa proposta por causa do prejuízo político que poderia causar, apesar do alto valor dos subsídios pagos pela Prefeitura - R$ 600 milhões só no ano que vem - para manter a tarifa em R$ 3.
Por enquanto não existe acordo entre os líderes de bancada para a votação da proposta. Muitos vereadores temem repercussão negativa para as eleições de 2012. A aprovação depende agora do esforço que a base governista vai dispensar, já que as duas principais prioridades são as votações do projeto que cria o centro de exposições em Pirituba, na zona norte, e do texto que autoriza mais prédios na região da Avenida Brigadeiro Faria Lima.
LÁ TEM...
Estados Unidos
A maior parte das cidades americanas já não tem cobrador de ônibus há mais de duas décadas. Além do bilhete eletrônico, como ocorre em São Paulo, há máquinas que coletam moedas e imprimem o boleto na hora. Em outras cidades, o passageiro pode comprar um tíquete em qualquer comércio e entregá-lo ao motorista. Também é comum que o próprio condutor acumule as funções de direção e cobrança.
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