
14 de setembro de 2020 | 17h11
Atualizado 26 de outubro de 2020 | 17h25
SÃO PAULO - Investigação do Ministério Público de São Paulo (MPE-SP) aponta que Marcos Roberto de Almeida, o Tuta, é o substituto de Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, e ocupa hoje o posto de maior liderança do Primeiro Comando da Capital (PCC). Ele era considerado o principal alvo da Operação Sharks, deflagrada pela promotoria e pela Polícia Militar nesta segunda-feira, 14,e está foragido.
De acordo com o MPE-SP, a ação mirou a nova cúpula da facção criminosa que se formou após a transferência das principais lideranças do PCC para presídios federais, em fevereiro de 2019. Reunindo informações de setor de inteligência desde o primeiro semestre do ano passado, os investigadores identificaram, ao todo, 21 suspeitos de preencher os vácuos deixados na cadeia de comando do PCC.
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Destes, oito foram presos ainda durante o curso da investigação e um teria morrido de causas naturais. Para a Operação Sharks, a Justiça expediu os 12 mandados de prisão restantes: dois deles foram cumpridos, um alvo morreu em suposto confronto com a PM e nove investigados seguem foragidos. Também houve outras duas prisões em flagrante.
"Os alvos eram todos membros da cúpula da facção criminosa que atua no Estado de São Paulo, o PCC", afirma o procurador-geral de Justiça, Mário Luiz Sarrubbo. "Acreditamos que atingimos aqueles que estavam trabalhando e sucedendo os que, anteriormente, foram desarticulados."
O mais relevante deles, Tuta está entre os investigados que não foram pegos até o momento. Segundo a promotoria, ele faz parte da chamada "Sintonia Final da Rua", o principal braço de comando da facção fora dos presídios no País. "Ele é hoje o integrante mais importante (do PCC), o sucessor de Marcola", afirma o promotor Lincoln Gakiya, um dos responsáveis pela investigação.
Ex-presidiário com passagens por roubo a banco e tráfico de drogas, Tuta teria conhecido Marcola, o chefe-mor do PCC, no presídio de Presidente Venceslau, no interior de São Paulo. Segundo a promotoria, ele está em liberdade há mais de três anos, após cumprir pena, e agora é procurado pela polícia.
Uma vez nas ruas, Tuta passou a ganhar cada vez mais importância nas atividades do PCC, escalonou na hierarquia da facção e teria sido escolhido por Marcola para ser o "novo número 1". Descrito como de "alta confiança da cúpula" e com "mente empresarial", assumiu a expansão do tráfico no exterior e, na prática, se tornou, desde o ano passado, a principal voz para os integrantes do grupo criminoso - posto semelhante ao que Gegê do Mangue ocupou antes de ser executado em fevereiro de 2018.
Segundo a investigação, ele também seria responsável por elaborar planos de fuga de lideranças presas e de planejar assassinatos de agentes e autoridades públicas. Há suspeita, ainda, de que ele exerça cargo de adido da embaixada de Moçambique, embora suas atividades nessa função sejam desconhecidas pela promotoria. Foi em Moçambique que a Polícia Federal prendeu, em abril, Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho, considerado o principal fornecedor de droga do PCC.
Para Gakiya, a ascensão de Tuta também revela que o PCC se viu forçado a mudar sua forma de organização, depois que os líderes históricos foram territorialmente isolados em unidades de segurança máxima em outros Estados. "A partir daí, as ordens passaram a ser dadas das ruas e o Tuta assumiu a função do Marcola. Ele tem contato em consulado, transita no País e fora do País. Ou seja, a ordem não está mais centralizada nos presídios."
Gakiya avalia que a Operação Sharks é "a mais importante realizada no Estado de São Paulo" desde a remoção das antigas lideranças. "Conseguimos identificar e mapear toda a liderança da facção criminosa que assumiu as funções com a transferência do Marcola e demais líderes para o sistema federal. Ela não é importante em número de investigados, mas em qualidade dos investigados."
Segundo a promotoria, os investigados comandam esquema que movimenta mais de R$ 100 milhões por ano e fazem parte de outros setores importantes do PCC: o "Raio-X" (uma espécie de conselho da Sintonia Final, responsável por proteger a cúpula e pela comunicação entre as diferentes funções do grupo), além do "Progresso" e da "Padaria", que cuidam de questões específicas do tráfico de drogas, a principal atividade da facção.
Suspeito de integrar o "Raio-X", José Carlos de Oliveira era um dos alvos da operação e morreu em suposto confronto com a PM em Praia Grande, no litoral paulista. No local, os agentes afirmam ter encontrado explosivos.
"Infelizmente, nós conseguimos romper a porta de entrada do apartamento e a equipe foi surpreendida com o infrator saindo de um dos quartos com uma pistola CZ 9 mm., disparando contra os policiais. Então houve necessidade de reação", diz o coronel Rogério Silva, comandante de Policiamento de Choque da PM. Nenhum policial ficou ferido.
Entre os foragidos, há suspeita de que parte esteja no Paraguai e na Bolívia - e a Interpol já teria sido acionada. “O importante foi a identificação desses indivíduos, que integram a cúpula do PCC hoje em exercício, e a responsabilização criminal deles. Ainda que alguns não sejam presos na data de hoje, as diligencias vão continuar e logo vamos ter a prisão de todos os investigados”, afirma o promotor.
As investigações tiveram início após a prisão de um integrante do PCC que tinha o apelido de "Tubarão", que seria responsável pelo setor financeiro da facção. Na ocasião, os agentes apreenderam diversos documentos com a contabilidade do grupo criminoso, entre eles planilhas que detalhavam inclusive o envio de milhares de reais para o exterior.
Além das ordens de prisão, os agentes envolvidos na Operação Sharks cumpriram, ainda, 40 mandados de busca e apreensão na capital, Grande São Paulo, Baixada Santista e interior. Durante as buscas foi encontrada quantia superior a R$ 100 mil em dinheiro vivo, além de diversos veículos de luxo, porções de drogas, uma pistola calibre 9 mm., munição e oito cartuchos de emulsão explosiva (TNT), além de equipamentos eletrônicos e documentos.
Para ocultar os valores, os faccionados compravam veículos e usavam imóveis com fundos falsos (‘casas-cofre’) para ocultar dinheiro vivo antes de realizar transferências, muitas vezes por doleiros. "A cúpula da organização vive luxuosamente, ressaltando-se que eram imóveis de alto padrão e carros importados", diz o procurador-geral Sarrubbo.
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