Prefeitura sabia que obra tinha risco

Administração pediu obra de emergência em imóvel que caiu na Liberdade; engenheiro diz que estava fazendo e culpa vazamento

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Por Artur Rodrigues e William Cardoso
Atualização:

A Prefeitura sabia havia dez dias dos riscos de desabamento da obra na Avenida Liberdade, na região central da cidade, que matou um pedestre anteontem à noite. A administração expediu ordem para que o responsável pelo imóvel fizesse obra emergencial de escoramento da parede, sob pena de embargo da obra. A vistoria aconteceu após um primeiro acidente, em que parte da marquise atingiu a vendedora Deusa Machado dos Santos, de 36 anos. Após a ordem para realização da obra, a construtura Construt entrou com pedido para Execução de Obra de Emergência. A partir daí, segundo a Prefeitura, a responsabilidade era do construtor.O engenheiro civil Carlos Eduardo Lopes de Oliveira, que se apresentou como responsável pela obra, minimizou o primeiro acidente. "Caiu uma pedrinha da fachada e a Prefeitura nos intimou a regularizar. Entramos com uma comunicação de obra emergencial e efetuamos os tapumes. Estávamos fazendo os processos que deveriam ser feitos", disse, após prestar depoimento no 1.º DP (Sé). Oliveira afirmou também que a obra estava em situação regular. "Existe uma autorização, tem cinco pedidos dentro da regional, que já foram apresentados durante o depoimento. A Prefeitura tem um prazo normal de tramitação dela. Tenho um protocolo em novembro, outros dois em dezembro."Ele disse que existe a possibilidade de vazamentos na rede pública de água e esgoto terem causado o problema. Segundo Oliveira, que também é sócio da construtora que tocava a obra, a Sabesp foi acionada pelo menos 15 vezes para checar os vazamentos. "Já havia algum indício, tanto é que temos vários protocolos na companhia concessionária pedindo para verificar, todos eles registrados", disse. Há muita água acumulada no terreno.A Sabesp classificou como "irresponsáveis" as afirmações do engenheiro. "Não há qualquer evidência de vazamentos prévios ao desabamento e, do ponto de vista técnico, diante das condições da região, é absurdo afirmar a relação de desabamento de um prédio com um eventual vazamento de uma rede de 5 cm de raio", afirma a concessionária, em nota. A Sabesp diz ainda que não há rede da concessionária debaixo do imóvel, somente na via pública, e que atendeu às solicitações do proprietário. O engenheiro responsável lamentou a morte do pedestre. "Lamento, vamos tomar todos os procedimentos que forem pertinentes para auxiliar a família."Anteontem, a polícia afirmou que Agnaldo Solato, que é engenheiro mecânico, era o responsável pela obra. Oliveira disse que Solato é apenas um preposto e, por isso, não vê problema no fato de ele não ser engenheiro civil. "Poderia ser um mestre de obra, qual o problema? Eu sou o responsável técnico."Solato foi ouvido ontem e afirmou que só gerenciava a construção. "O meu Crea (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia) está inativo porque hoje não atuo como engenheiro. Minha função na empresa é de gerente operacional. Não assino plantas, não faço projetos."A Prefeitura intimou o proprietário a reparar tanto o imóvel que desabou quanto os demais que foram afetados. Os números 736, 720, 714, 706 e 704 da Avenida Liberdade permanecem interditados pela Defesa Civil até que os reparos sejam feitos.

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