Prefeitura mantém posto de lixo no Ipiranga

No dia em que venceu prazo para desativar unidade da Ecourbis, contrato foi alterado e, com promessa de modernização, transbordo permanecerá

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Por Nataly Costa e Vitor Hugo Brandalise
Atualização:

A unidade de transbordo de lixo Vergueiro, no Ipiranga, na zona sul, que deveria ter sido desativada ontem, vai continuar funcionando no mesmo lugar. Questionada pelo Estado desde agosto, a Prefeitura anunciou ontem que o prazo do contrato com a Ecourbis, responsável pela unidade, será alterado. Os moradores já entraram com representação no Ministério Público Estadual e pretendem acionar também a instância federal.A Secretaria de Serviços, por meio do Departamento de Limpeza Urbana (Limpurb), informou em nota que, "por conta da impossibilidade alegada pela concessionária de encontrar áreas para a instalação de um novo transbordo, foram apresentadas alternativas como a modernização da Estação de Transbordo Vergueiro e seu entorno". O novo contrato, segundo a secretaria, está em análise pelos setores técnico e jurídico do Limpurb.O transbordo funciona desde 1978 na Avenida Ricardo Jafet, do lado da Estação Santos-Imigrantes do Metrô. Diariamente, recebe cerca de 60 toneladas de lixo, recolhidas de 17 subprefeituras. De lá, seguem em caminhões maiores para os aterros. Em nota, a Ecourbis afirma que uma das cláusulas permite a "adequação de alguns marcos contratuais, quando necessário". O prazo anteriormente firmado previa uma concessão de seis anos a partir do dia 6 de outubro de 2004. De acordo com o mesmo documento, a estação atual deveria ter sido modernizada e obras de compensação ambiental deveriam ter sido executadas. Entre o quarto e o quinto ano da concessão, entre 2008 e 2009, uma nova operação teria de ser construída com área mínima de 8 mil metros quadrados em região de uso e ocupação industrial - ou seja, longe de onde hoje funciona o transbordo, rodeado de casas, prédios, comércio e até escolas de ensino fundamental. A empresa afirma, no entanto, que a Prefeitura solicitou um "plano de modernização e melhorias ambientais" em 2008 para que a unidade pudesse permanecer em funcionamento. Por isso, foi feito um "ambicioso projeto de modernização", no qual já foi gasto R$ 1,9 milhão. "O início das obras depende da aprovação do projeto nos órgãos competentes. Após seu início, o prazo estimado é de 18 meses", diz a nota.Novo lugar. A Ecourbis mantém a posição de que "não existe área adequada onde possa ser instalado um novo transbordo". O médico Luiz Carlos Morrone, que faz parte da comissão de moradores do Ipiranga pela desativação, mapeou por conta própria locais alternativos para uma nova unidade, todos na Rodovia dos Imigrantes, a cerca de 7 quilômetros do local atual. "É uma sugestão, mas até agora ninguém me deu resposta se seria viável ou não", diz. Ele e outros 700 moradores do Ipiranga fizeram um abaixo-assinado contra o transbordo. Uma parte deles protocolou uma representação na Promotoria do Meio Ambiente do MP paulista. Procurado, o promotor Edward Ferreira Filho afirmou que o inquérito segue em análise. Reclamações. O repúdio dos moradores à unidade não é apenas pelo mau cheiro óbvio que se alastra pelo bairro. "Os caminhões circulam a madrugada inteira, é um barulho infernal", diz a estudante Bruna Martiniano. A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) afirma que não há restrição ao tráfego de caminhões naquela área.O chorume deixado no rastro dos caminhões é outra reclamação recorrente. "Por onde eles passam, pinga sujeira", conta a aposentada Maria Aparecida Caires. "O lixo também atrai pombos, que espalham uma série de doenças", afirma o morador Eduardo Pinto.PARA LEMBRAR Bairro brigou e incinerador foi desativado A briga contra o lixo é histórica para os moradores do Ipiranga. Desde 1966, um incinerador de lixo funcionava no terreno do lado do transbordo e queimava cerca de 100 toneladas de resíduos tóxicos por dia. Em 2002, por pressão das comissões de bairro, foi desativado, mas os equipamentos ficaram. O lixo passou a ser eliminado por uma empresa no Jaguaré, zona oeste, e em um incinerador em São Bernardo do Campo, no ABC paulista.

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