Prefeitura e artistas brigam por muro

Espaço na Estação da Luz já foi repintado pelo menos três vezes por governo e por grafiteiros

PUBLICIDADE

Por Juliana Deodoro
Atualização:

Um muro da Avenida Tiradentes, nas proximidades da Estação da Luz, na região central, é alvo de disputa entre grafiteiros e a Prefeitura. Em seis meses, ele foi pintado pelo menos três vezes por cada uma das partes e abriu uma discussão sobre intervenções na cidade. A história começou em janeiro, quando os artistas do projeto Cartograffiti passaram dias fazendo um mural no local. Antes do carnaval, parte da intervenção sumiu, apagada pela tinta cinza da Prefeitura. Tempos depois, ao se darem conta do caso, os artistas voltaram a intervir, com dizeres como "Prefeitura paga e apaga" - o que também sumiu debaixo da tinta. Na última semana, porém, o muro voltou a ser alvo dos grafiteiros. Contemplado pelo edital Arte na Cidade, da Secretaria Municipal de Cultura, o Cartograffiti prevê a criação de 21 murais, que, além da parte gráfica, contam também com bancos e lixeiras que convidam as pessoas a sentar e interagir. Quando todos os murais estiverem prontos, a intenção é criar um roteiro de ônibus que interligue as zonas norte e sul da capital.Responsável pelo Cartograffiti, o artista plástico Mauro Néri diz que, dos nove muros pintados por eles pela cidade, pelos menos seis foram apagados de alguma forma. "Percebemos que há variação no critério de apagar e de onde apagar. Isso é algo que acontece não só com o Cartograffiti, mas com outras intervenções na cidade", afirma. Segundo ele, os "apagões" são mais comuns em locais que, de alguma forma, têm tendência mais turística. "Fizemos uma intervenção na 23 de Maio com a Radial, a poucos metros de grafites que estão na Radial há anos, e eles foram apagados." Discussão. Néri conta que algumas pessoas chegaram a entrar em contato com ele e com a Subprefeitura da Sé, responsável pela pintura, depois que os murais foram apagados. O artista acredita que o caso dá fomento à discussão sobre a legalidade e a legitimidade das intervenções e da ocupação do espaço na cidade."Quem é que vai escolher a cor da parede da cidade? É o encarregado de pintura? É a opinião pública? É o artista de rua?", questiona. "Acredito que falar disso pode fazer com que a gente tenha uma paisagem que a gente escolheu." A Secretaria de Coordenação das Subprefeituras afirma que a pintura foi realizada antes da publicação da autorização pela Subprefeitura e as equipes não sabiam que se tratava de uma intervenção. Ainda de acordo com a secretaria, "a Prefeitura reconhece o grafite como importante forma de arte e vem nos últimos anos viabilizando inúmeras intervenções do tipo em espaços públicos".

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.