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Prefeitura de SP vai retirar crianças de hotéis na Cracolândia

Fernando Haddad diz que jovens vão ser realocados para outra área onde não haja contato ou proximidade com o consumo de drogas 

Por Felipe Resk
Atualização:

Atualizado às 20h39
SÃO PAULO - O prefeito Fernando Haddad (PT) informou nesta sexta-feira, 5, que as crianças abrigadas nos hotéis contratados para o programa Braços Abertos na região da Cracolândia, centro de São Paulo, serão isoladas do convívio com dependentes químicos. A mudança deve constar na licitação que contratará nova ONG para coordenar o programa ainda neste mês.
Conforme revelou o Estado, dezenas de crianças estão vivendo “sitiadas” nos quartos de hotéis alugados pela Prefeitura na Alameda Barão de Piracicaba, na Cracolândia. A reportagem mostrou que elas passam o dia isoladas pelo consumo de crack dos vizinhos. “Os assistentes sociais vão verificar o que está acontecendo com as crianças para uma eventual remoção”, disse Haddad, em visita à região, sobre medidas a curto prazo. “Os outros seis (hotéis) foram vistoriados hoje e estão em condições adequadas.”

Segundo o prefeito, caso os estabelecimentos não se adequem aos termos originais do programa, eles serão excluídos e as famílias distribuídas entre os demais abrigos contratados. “O dono do hotel está pressionando a Prefeitura para ganhar mais, e isso não vamos admitir”, afirmou Haddad. “Não se pode usar um drama social para impor à Prefeitura aumento de custos que não foi pactuado.” Haddad classificou a atitude do proprietário do hotel Manoel Souza como “chantagem”. De acordo com a Prefeitura, a administração repassa R$ 480 por mês, por cada beneficiário do programa, à ONG Brasil Gigante, responsável por fazer o pagamento aos abrigos. Ao todo, 422 beneficiários estão cadastrados e o valor total do convênio é de R$ 5,06 milhões. Segundo a Prefeitura, 31 crianças vivem nos dois hotéis. Conforme Manoel Souza, são 45. Todas as crianças têm vagas em creches e escolas da região, afirmam os moradores.  Mais cedo, durante a entrega de um conjunto habitacional na zona norte, Haddad havia dito que as famílias com filhos seriam remanejadas para um local “mais distante e segregado dos homens adultos”. “Estamos em uma difícil transição de uma ONG, que foi contratada no começo do ano em caráter de emergência, para uma que está sendo contratada por licitação. E essa transição está criando problemas”, disse. A licitação para contratar uma nova entidade, que deve substituir a ONG Brasil Gigante, foi aberta pela Prefeitura. No novo contrato, além da separação das famílias com crianças, são previstas mudanças no controle das pessoas que entram e saem dos hotéis. “Dia 9 de setembro teremos uma nova parceria”, disse Haddad.

O aumento da fiscalização é uma tentativa da Prefeitura de diminuir a violência nesses locais. Segundo o prefeito, há relatos de casos de furtos no interior dos hotéis. “Estamos discutindo a possibilidade de botar a Guarda Civil Metropolitana (GCM) mais intensivamente, não apenas na região, mas nas portas dos hotéis para impedir a entrada de pessoas estranhas aos programas, que são as que causam o problema.”  Crítico do programa, o presidente do Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) de Santa Cecília, Fábio Fortes, diz que todos os abrigos têm problemas. “É importante que ele (Fernando Haddad) responda ao Ministério Público como estão as condições de habitação dos hotéis, principalmente em relação à segurança contra incêndio e às questões de saúde pública.” Avaliação. Questionado sobre a avaliação que faz após sete meses do programa, Haddad disse enxergar uma grande evolução. “Sempre haverá espaço para melhorar. Mas, se compararmos o que está sendo feito neste ano com o que foi feito nos anteriores, a mudança é da água para o vinho.” “Quem mora aqui vê que sempre chega mais gente. O governo tira 300, chegam 400”, contesta Noemi Silveira, presidente da associação de moradores da região. “Até perua lotada, trazendo gente de fora para a Cracolândia, a gente vê.” Segundo a Prefeitura, 122 beneficiários do programa Braços Abertos estão em tratamento voluntário contra dependência química. O consumo de crack dessas pessoas teria sido reduzido, em média, de 50% a 70%, de acordo com dados coletados em março. Haddad informou que o método adotado continuará em vigência. “Vamos insistir na política de atendimento humanitário.” 

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