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Prefeitura de SP inicia projeto-piloto para trocar mosaico português por concreto

Obra definitiva no calçadão do ‘centro velho’ está prevista para começar ainda neste ano; mudança divide opiniões

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Por Priscila Mengue
Atualização:
Prefeitura de São Paulo testa mudança no calçadão da Rua Dr. Miguel Couto Foto: Alex Silva/Estadão

Os calçadões do centro de São Paulo nasceram polêmicos e, mais de 40 anos depois, ainda dividem opiniões. Já discutida por outros prefeitos, a troca do mosaico português por concreto começou a ser testada pela gestão Bruno Covas (PSDB) em um trecho da Rua Dr. Miguel Couto. A ideia é verificar o tipo de modelo ideal para, ainda neste ano, começar a mudança nos calçadões do triângulo histórico, entre as ruas Boa Vista, Líbero Badaró e Benjamin Constant.

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A alteração também será subterrânea, com a instalação de canaletas para organizar as redes de telefonia, fibra óptica e saneamento. Hoje, a Prefeitura atribui a maior parte dos problemas de manutenção às intervenções realizadas pelas concessionárias, que não colocam as pedras portuguesas no local após a realização de serviços. 

O trecho do projeto-piloto abrange dois tipos de técnica, com placas cimentícias pré-fabricadas e armado moldado “in loco”, como na Avenida Paulista. “Tem de ter uma resistência alta, porque a gente está falando de uma área que circula carro-forte, caminhões-pipa”, explica o secretário municipal de Desenvolvimento Urbano, Fernando Chucre. “Mas a previsão é para esse ano, eu não tenho dúvida de que sairá o (projeto para o) calçadão.”

Na rua Dr. Miguel Couto, a Prefeitura de São Paulo testa novos pisospara centro histórico, no lugar do calçamento português Foto: Alex Silva/Estadão

O secretário adianta que um trecho será doado por empresas do setor financeiro, enquanto o restante será pago com recursos municipais. “O calçadão está em um estado muito ruim de conservação, até pela técnica construtiva utilizada, o tal do mosaico português - que, somado à questão de a estrutura ser muito velha, acaba gerando quebras constantes.”

Chucre diz que a execução começa neste ano, mas deve ser entregue no primeiro semestre de 2020, devido à alta quantidade de pedestres da região. “O problema dessa calçada não é a execução da obra em si, mas a logística. Se você imaginar que pega, por exemplo, a Rua São Bento, tem dezenas de lojas ao longo da rua.”

Após a execução do trecho do centro velho, uma nova licitação vai abarcar a troca das pedras portuguesas dos calçadões do chamado “centro novo”. “Deve estar no planejamento agora. A gente está fazendo projetos básicos já da segunda parte.”

A mudança integra uma série de ações da Prefeitura para intensificar a vida noturna e o turismo na região central, tais como melhorias na iluminação, incentivos fiscais e a concessão do Edifício Martinelli, dentre outros. “É um conjunto projetos estratégicos que fazem parte do PIU (Projeto de Intervenção Urbana) Setor Central, como sendo uma forma de alavancar a região central.”

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Projeto prevê que redes de telefonia e outros serviços sejam acondicionadas em canaletas Foto: SP Urbanismo/Prefeitura de São Paulo

Retirada da pedra portuguesa divide opiniões

A mudança no calçadão envolve desde questões práticas (como acessibilidade e manutenção) até aspectos “simbólicos” (como a memória da cidade) e, por isso, gera críticas e elogios simultaneamente. “Há argumentos fortes dos dois lado. Uma coisa que defendi durante algum tempo é que tentasse uma medida possível de desenho do piso que respondesse aspectos funcionais, para pessoas com dificuldade de locomoção”, diz o professor de Arquitetura e Urbanismo da Mackenzie, Valter Caldana.

“Por outro lado, tem a questão histórica. O mosaico português tem uma simbologia muito grande na nossa cultura e história, da nossa herança portuguesa. Simplesmente eliminar o mosaico é bastante discutível”, pondera. 

Algumas entidades são contrárias à retirada do mosaico português, que data dos anos 70. “Em vez de darem prioridade à manutenção do espaço público, querem fazer tudo de novo, jogar o que tinha fora e fazer de novo”, critica Jorge Eduardo Rubies, presidente da Associação Preserva São Paulo. 

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Para ele, a mudança é uma “maquiagem”. “Os calçadões são um marco civilizatório da cidade, que, até então, só dava prioridade aos carros. Faz parte da identidade do centro”, diz ele, que cita como exemplos positivos mosaicos dos centros de Lisboa e Curitiba. “Daqui a pouco, o piso de concreto está estragado também, cheio de buracos. O problema não é trocar o piso, mas fazer a manutenção.”

A associação Viva o Centro defende, por sua vez, a retirada do mosaico português há quase uma década, já tendo feito até levantamentos sobre as centenas de buracos que se somam pelas vias da região. Ela defende que a mudança também é uma medida de segurança para evitar quedas de pedestres e outros acidentes.

A mudança também divide opiniões entre usuários. O aposentado Odair Guerra, de 68 anos, por exemplo, aprova mudanças que deixem o pavimento “mais liso” e “confortável” para caminhar. Com dificuldade de locomoção, ele precisa ir à região uma vez por semana e, por causa da muleta, cuida-se para não sofrer um acidente. “Tem muito buraco, então precisa andar devagar. Se é plano, não tem perigo.”

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O tripulante de embarcações Bruno Fontes, de 20 anos, aprovou a mudança quando passava pela área do projeto-piloto. “A rua está destruída. A gente caminha olhando para o chão, enquanto todo mundo está com pressa.”

O músico Danilo Rocha de Souza, de 37 anos, tem opinião distinta. “Acho os mosaicos bonitos e perfeitamente acessíveis, quando bem cuidados”, diz. “A adequação para a acessibilidade pode ser feita com faixas em concreto. Mesmo o concreto, sem a devida manutenção, fica esburacado. O problema, a meu ver, é de zeladoria.”

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