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Prédio autossustentável é moradia de 170 famílias

Estudantes, haitianos e sem-teto dedicam 2 horas/dia a atividades coletivas

Por Diego Zanchetta
Atualização:

Nos 13 andares do Edifício São Manuel, ocupado por 170 famílias desde outubro de 2012, estudantes de Arquitetura, haitianos, sem-teto, evangélicos, garotas de programa e intelectuais da USP gastam R$ 160 por mês e duas horas diárias em atividades coletivas. A missão é criar um condomínio autossustentável e forçar o governo municipal a transformar o prédio, fechado pelos donos desde março de 2009, em moradia popular. O laboratório social, como vem sendo chamado o edifício de 1939, projetado pelo modernista francês Jacques Pilon (1905-1962) na Rua Marconi, no centro paulistano, tem chuveiro quente, Wi-Fi, creche, sala de cinema, biblioteca, cozinha coletiva, portaria 24 horas e regras rígidas de convivência - briga de casal, ofensa entre vizinhos, barulho após as 22 horas e consumo de bebida alcoólica são infrações que resultam na expulsão imediata do morador. O recente documentário Marconi 138, feito na ocupação por produtores independentes e hoje exibido em coletivos culturais do centro e universidades, tenta retratar a experiência inédita e a convivência harmônica. A limpeza em cada canto da ocupação é o que mais impressiona. Não há lixo acumulado e o mármore branco da escada brilha. Cada morador tem de ter renda própria e dedicar duas horas diárias a funções que o tornem autossustentável, como porteiro, encanador e professor. O pagamento de R$ 30 para despesas (luz, água e consertos) é semanal. Outros R$ 10 por semana garantem duas refeições por dia na cozinha coletiva, onde entram alimentos doados pela Ceasa e pelo Movimento dos Sem Terra.A participação na limpeza dos andares e da cozinha é obrigatória. Para manter a creche no segundo andar, mães que trabalham fora pagam R$ 120 semanais para duas moradoras da ocupação. Ordem. Tamanha organização chamou a atenção de pesquisadores da USP e da Defensoria Pública do Estado. Um escritório do Coletivo Chão, de doutorandos e ex-alunos de Arquitetura, está sendo montado no último andar."A luta não é por uma bolsa-aluguel de R$ 300 ou cadastro em programa habitacional, mas para que a função social do imóvel seja cumprida", diz o cineasta Manuel Moruzzi, de 31 anos, do Movimento Moradia Para Todos (MMPT). Moruzzi classifica o imóvel de "latifúndio improdutível". "Era um prédio vazio, com donos devedores do governo. Agora temos 170 famílias morando com dignidade, perto do trabalho."Uma sala no terceiro andar é reservada para hóspedes transitórios e neste momento é ocupado por duas estudantes, uma delas Marcela Arruda, de 21, que cursa Arquitetura e deixou a casa dos pais no Itaim-Bibi. "Aqui tem mais espaço de convivência. É essa vida coletiva que estamos querendo mostrar que é possível."

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