17 de agosto de 2011 | 00h00
Proprietários de uma casa projetada por Oscar Niemeyer e erguida em 1942 no bairro da Lagoa, na zona sul do Rio, tentam impedir a construção de um prédio de quatro andares que ameaçaria a preservação do imóvel, tombado pelo município e protegido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
A casa amarela, de traços modernos e sustentada por pilotis, chama a atenção no alto de uma das ladeiras da região conhecida como Fonte da Saudade, cercada por áreas verdes. Foi a primeira residência projetada por Niemeyer, que viveu no local na década de 1940.
O imóvel foi tombado pela prefeitura do Rio em 1998, como parte de uma lei que passou a proteger todos os projetos de Niemeyer no município. A medida, no entanto, não protege seu entorno, o que permitiria a demolição de casas da região e a construção de um edifício de quatro andares na frente da residência.
Moradores da Fonte da Saudade e os atuais donos afirmam que duas casas do terreno vizinho foram vendidas em 2008 e dariam lugar a um prédio - cujo projeto já foi autorizado pela prefeitura. Eles afirmam que o futuro imóvel, com até 14 metros de altura, bloquearia a visão da casa tombada. "Além de criar possíveis danos estruturais", ressalta o proprietário, Renato Sette Câmara, neto do ex-governador do antigo Estado da Guanabara José Sette Câmara, que era amigo de Niemeyer. "Um edifício vai esconder totalmente um patrimônio desenhado pelo maior arquiteto brasileiro."
A Secretaria Municipal de Cultura confirma que o Conselho do Patrimônio Municipal deu parecer favorável à construção do prédio, mas alega que a visibilidade da casa não será afetada. O imóvel, no entanto, também é protegido pelo Iphan. Em 2007, o órgão incluiu a casa em um projeto de tombamento de todos os imóveis desenhados por Niemeyer no Brasil. O processo ainda está em fase de aprovação, mas a proteção do entorno já é garantida nessa etapa.
Caso o tombamento federal pelo instituto seja concretizado, nenhuma modificação poderá ser feita nos terrenos vizinhos à casa sem autorização prévia. Segundo o órgão, a preservação dos imóveis deve envolver a visão de suas fachadas, evitando que seja bloqueada do exterior.
A Associação de Moradores da Fonte da Saudade afirmou que pretende acionar o Ministério Público e a Câmara para suspender a autorização concedida pela prefeitura ao projeto. "Não podemos abrir um precedente como este, que colocaria em risco outras obras importantes", afirmou a presidente, Ana Simas.
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