Praias de SP têm acessos com falhas e sem padrão

Banhistas com dificuldade de locomoção não conseguem usar rampas e escadarias

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Por Edison Veiga e Reginaldo Pupo
Atualização:

Uma cena que se repete em grande parte do litoral paulista: deficientes, idosos e pessoas com dificuldade de locomoção enfrentam problemas para chegar às praias. Caso emblemático é o do Guarujá. Com uma situação geográfica em que a areia fica alguns metros abaixo do nível da rua, a orla é dominada por escadas – a maior parte em péssimas condições. 

Nas Praias do Guaiuba, das Astúrias, de Pitangueiras, da Enseada e de Pernambuco, a reportagem se deparou com acessos totalmente fora do padrão – ora feitos de concreto, ora de madeira; alguns com corrimões, outros sem – e malconservados. Em uma escada instalada na frente de um posto salva-vidas da Enseada, não havia nenhum degrau restante. A falta de um ou dois corrimões é comum e, em Guaiuba, uma escada que deveria ter dez degraus conta apenas com quatro – os demais foram levados pela maré e jamais repostos. 

Escada quebrada na praia da Enseada, no Guarujá, litoral sul de São Paulo 

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UTI. Na manhã do dia 8 deste mês, a professora universitária Clélia Camassa Gurgel do Amaral, de 70 anos, tentou enfrentar uma dessas escadas para chegar à Praia de Pitangueiras. Com a instabilidade dos degraus, desequilibrou-se e, na falta de corrimão em um dos lados, caiu e entrou em coma. Ficou 11 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e somente ontem recebeu alta médica.  “Muita gente tem se acidentado aqui recentemente. Já vi uns quatro casos. O dela, sem dúvida, foi o mais grave”, conta Manuel Avelino de Sousa, zelador do edifício de Clélia, que fica na frente do acesso. Ele conta que a administração do condomínio avisou a prefeitura sobre a situação da escadaria há meses – sem obter resposta.

A situação se repete pela orla. Cansado de esperar pela solução oficial, o permissionário de uma barraca em Guaiuba decidiu mandar fazer uma escada nova. “Gastei R$ 2 mil. Agora oriento meus clientes a utilizarem apenas essa”, diz ele, que não quer ser identificado por temer represálias. 

A falta de padronização, aliás, é causada por essas iniciativas individuais. “Os corrimões foram todos feitos pelos condomínios”, assegura Rubens Pedro da Silva, zelador de um edifício na Praia das Astúrias.

Secretário de Planejamento do Guarujá, Marcos Damin reconhece o problema. Atribui a dificuldade de melhoria aos trâmites com a União – já que as praias são de domínio federal. Mas anunciou um projeto de adaptação cujas obras devem ser iniciadas em breve.  Segundo ele, no próximo verão a Praia da Enseada estará acessível – ao custo de R$ 2,4 milhões. Em seguida, as benfeitorias devem chegar às demais. “Esse problema é um legado de décadas”, comenta. 

Litoral norte. Na terça-feira da semana passada, a balconista Claunúsia Ferreira, de 37 anos, tentou ir à Praia das Cigarras, em São Sebastião. Não conseguiu. “Além de não ter rampa, ainda há um muro que circunda toda a praia, o que torna impossível transpor a cadeira de rodas da calçada até a praia”, relata. A situação se repete nas demais praias da região – Caraguatatuba, Ilhabela e Ubatuba. Em São Sebastião, a Praia Grande seria a exceção. Mas as rampas de concreto que dão acesso à areia estão deterioradas e uma delas nem tem corrimões. 

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“Nenhuma cidade do litoral norte possui uma praia adequada e com acessibilidade para o lazer das pessoas com deficiência”, critica o diretor-presidente do Instituto de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Estado de São Paulo (Idefesp), Mônico Santos Silva. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP) também está de olho. “As subseções do litoral estão levantando situação de cada praia quanto à acessibilidade”, afirma o presidente da OAB-SP, Marcos da Costa. 

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