PUBLICIDADE

Por trás dos pedidos, medo de assalto

Além de cancelas e guaritas, moradores das zonas sul e oeste usam floreiras, portões e placas falsas de 'sem saída' e 'só tráfego local'

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

O medo de assaltos é o motivo número 1 citado pelas associações de bairros que defendem o fechamento de ruas com cancelas e guaritas. Outras razões apontadas são ajudar a evitar o avanço de prédios e de condomínios fechados de casas."É até uma forma de proteger a cidade contra a verticalização, pois nenhuma construtora tenta comprar casas em ruas fechadas. Eles sabem que é mais difícil conseguir a desapropriação nesses casos", defende Plinio Campos Bianchini, de 42 anos, empresário e morador da Rua Carlo Rainaldi, no Alto da Boa Vista, bairro nobre da zona sul.A Carlo Rainaldi foi fechada com portões de ferro de mais de dois metros de altura. Dos dois lados da via, há saídas vigiadas por guaritas e câmeras. A passagem de pedestres é permitida só durante o dia. Segundo moradores, as casas dessa rua - algumas avaliadas em R$ 3 milhões - têm preços até 40% superiores a outras de mesmo padrão localizadas em vias abertas do bairro."Moramos ao lado da Marginal do Pinheiros, então é um bairro que facilita a fuga dos ladrões. Tivemos dezenas de assaltos, com famílias que ficaram reféns de bandidos e acabaram vendendo a casa para morar em prédio. O medo vai acuando as pessoas e é dessa forma que os bairros de casas vão acabando em São Paulo", diz a arquiteta Lucimara Ferreira, de 36 anos, moradora de outra via fechada com cancelas - a Avenida Luís Martins de Araújo, também no Alto da Boa Vista.A avenida tem saída para os dois lados, mas os moradores colocaram uma placa de "sem saída" e outra que diz "permitido só tráfego local". Na entrada, há uma guarita onde ficam dois vigias. Ali perto, a Rua Canumá também teve uma de suas saídas fechada por um portão de ferro. Com isso, os moradores transformaram um trecho da via em praça e horta comunitária.Morador do Alto da Boa Vista há 24 anos e com casa em rua aberta, o advogado Alberto Fagundes Puga, de 58, acha o fechamento de ruas com cancela "uma agressão". Ele defende a instalação de floreiras que apenas limitem a entrada de carros. "Quem quer fechar rua no meio de um bairro residencial que vá morar em condomínio fechado, longe da cidade", critica o advogado. No Alto de Pinheiros, moradores também usaram um "disfarce" com floreiras para fechar a Rua Visconde de Maracaju, aberta dos dois lados e sem nenhuma casa. A rua virou uma pracinha particular do prédio vizinho, cheia de árvores e com bancos. No Alto de Pinheiros, a reportagem também constatou o fechamento com cancelas da Rua Itapicura, uma via com cerca de 200 metros e saída dos dois lados. "Quase todo morador antigo aqui já sofreu assalto. Quem está em casa de rua aberta chega com medo à noite todo dia. Todo mundo no bairro quer fechar sua rua, só quem não conseguiu autorização é que critica", afirma a procuradora Vitoria Ferraz, de 52 anos, nascida e criada no Alto de Pinheiros.Fumódromo. Localizada na região mais movimentada de bares e baladas da cidade, no meio da Vila Madalena, a Luís Anhaia é uma das poucas ruas que conservam casas antigas de bairro, construídas na década de 1950. Mas, com um fundo que sai no Bar Empanadas, na Rua Wisard, e a outra saída colada ao Bar Salve Jorge, na Rua Aspicuelta, a via "era um inferno todos os dias", segundo a moradora Rosa Tridico, de 50 anos"Ficava uma multidão fumando maconha na rua, a calçada amanhecia com cheiro de urina, vivemos um inferno aqui por anos. A rua era fechada, mas a Prefeitura mandou reabrir em 2005. Só no ano passado é que conseguimos autorização para fechar de novo", conta a moradora. Os portões carregam uma placa com o número da lei de 2009 e a data da autorização emitida pelo governo no dia 18 de fevereiro de 2011. / DIEGO ZANCHETTA e RODRIGO BURGARELLI

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.