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Por tarifa a R$ 3,80, Doria quer limitar entrada de ônibus intermunicipal

Proposta em estudo é fazer que passageiros que saem de outras cidades sejam obrigados a descer em um terminal paulistano perto dos limites

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Por Adriana Ferraz , e Fabio Leite
Atualização:
Marginal do Tietê. Das 571 linhas da EMTU na Grande São Paulo, 376 circulam na capital Foto: ALEX SILVA/ESTADÃO

A equipe de transição do prefeito eleito de São Paulo, João Doria (PSDB), estuda fazer uma reestruturação do transporte coletivo na capital para “capturar” passageiros que hoje utilizam linhas de ônibus intermunicipais dentro da cidade e aumentar a receita tarifária da Prefeitura. A medida é uma das engenharias analisadas pela futura gestão para “racionalizar” o sistema e conseguir manter o preço da passagem congelado em R$ 3,80 no ano que vem sem sacrificar outras áreas. 

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A proposta é reduzir a entrada na capital de ônibus da Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU), controlada pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB), e obrigar os passageiros que chegam de cidades vizinhas a pegar um coletivo municipal operado pela São Paulo Transporte (SPTrans). Assim, uma parte do valor pago pela viagem passa a entrar na conta sistema da Prefeitura, que subsidia a tarifa, em vez de a tarifa ser recolhida integralmente pela empresa concessionária da EMTU.

A justificativa dada por pessoas que acompanham o estudo é de que há enorme sobreposição de linhas na cidade (ônibus municipais e intermunicipais que fazem o mesmo percurso, provocando um custo de operação desnecessário). Hoje, das 571 linhas da EMTU que operam na Grande São Paulo, 376 circulam na capital. Um diagnóstico da rede deve ser feito no início da gestão Doria pela equipe do futuro secretário municipal de Transportes, Sérgio Avelleda.

Na prática, uma pessoa que precisa sair hoje da cidade de Arujá, na Grande São Paulo, e ir até o centro da capital, precisa pegar apenas um ônibus da EMTU, com tarifa de R$ 6,40, para descer na Estação Brás do Metrô (Linha 3-Vermelha). O trajeto dura três horas e atravessa toda a zona leste da capital, depois de já ter passado por Itaquaquecetuba. Pela proposta em estudo, esse ônibus teria de parar em algum terminal em bairro limítrofe da capital, como Itaim Paulista, e o passageiro fazer uma baldeação para o coletivo municipal. A ideia é que o usuário pague uma tarifa menor da EMTU e outra tarifa, possivelmente integrada, à SPTrans. 

Em 2014, a CPI do Transporte Coletivo na Câmara Municipal já havia recomendado a reestruturação para evitar “sobreposição das linhas das empresas concessionárias da EMTU”. Na ocasião, os vereadores solicitaram a suspensão de 350 linhas que circulam na cidade. 

Histórico. A ideia em estudo já foi implementada. Em 2006, quando o “Fura Fila” foi inaugurado, na Avenida do Estado, linhas intermunicipais vindas do ABC com destino ao Terminal Parque Dom Pedro, no centro, passaram a ter o destino final no Terminal Sacomã, na zona sul, fazendo o passageiro completar a viagem no novo modal. A medida causou reclamações sobre o tempo gasto na baldeação. Na época, as tarifas foram adaptadas de forma que o passageiro não pagasse mais.

EMTU afirma que desconhece estudo e mantém ‘diálogo’

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A Empresa Metropolitano de Transportes Urbanos (EMTU) informou, em nota, que “desconhece qualquer estudo no sentido de reorganizar o sistema de arrecadação do transporte intermunicipal por ônibus” tanto na capital quantos nos outros 38 municípios da Grande São Paulo. “A racionalização do sistema de transporte sobre pneus tem sido objetivo permanente da EMTU. Um plano bem executado reduz custos e pode, até, aumentar a velocidade comercial dos veículos, reduzindo assim o dispêndio dos usuários”, afirma a estatal controlada pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB). 

Segundo a empresa, “o diálogo com a Prefeitura da capital e os outros municípios da Grande São Paulo tem sido rotina ao longo dos anos”. Hoje, são 376 linhas de ônibus intermunicipais operadas por 17 concessionárias dentro da capital. As tarifas variam de R$ 3,05 a R$ 45,50.

Restrição a ‘ônibus de fora’ é vista com críticas

A proposta de criação de pontos de conexão entre linhas de ônibus municipais e intermunicipais de São Paulo, limitando a entrada dos intermunicipais na cidade, em análise pela gestão João Doria (PSDB), foi recebida com ressalvas entre os empresários do setor e por estudiosos do sistema de transportes. Há consenso de que a sobreposição de linhas é prejudicial à cidade, uma vez que o sistema perde eficiência, mas há ainda o temor de que o passageiro possa ser prejudicado. 

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“Acho razoável diminuir essa sobreposição indesejável de linhas, principalmente nas áreas mais centrais da cidade”, diz o professor do Departamento de Engenharia de Tráfego da USP Claudio Barbieri da Cunha. Mas ele ressalta que a medida não poderia prejudicar o passageiro com o pagamento de uma tarifa mais cara.

“O sistema de ônibus de São Paulo, seja ele municipal ou intermunicipal, necessita de ajustamento como um todo para otimizá-lo o máximo possível”, afirma. “Existem duas medidas para racionalizar o sistema: pode ser pelo lado indesejável da redução de oferta, ou seja, menos ônibus nas ruas, o que prejudica a população, ou pelo lado da demanda, atraindo mais passageiros para aumentar receita. Esse tipo de reestruturação deve ser analisado linha por linha. É parte da solução, mas não vai ser a solução.” 

Empresas. O Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de São Paulo (SPUbanuss), que representa as operadoras das linhas municipais, afirma, em nota, que “não vê como solução, para ampliar o potencial de arrecadação, a penalização dos clientes do transporte”. 

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O setor sugere uma alternativa: fazer a integração tarifária, como ocorre entre ônibus, metrô e trens. “Parece mais razoável, a exemplo do que já ocorre com o transporte municipal e o transporte metroferroviário, a participação do transporte intermunicipal na Câmara de Compensação, com toda a arrecadação com o pagamento das tarifas repartida entre as empresas operadoras, a partir de porcentuais prefixados”, diz o sindicato, em nota.

O Setpesp, sindicato que representa as empresas de ônibus intermunicipais, informou em nota que só se manifestaria sobre a hipótese quando ela se tornar realidade.