Pôr fogo em ônibus se institucionalizou como protesto

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Por ANÁLISE: Rafael Alcadipani e professor da Fundação Getúlio Vargas
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Desde o início do ano vários ônibus foram queimados, principalmente na capital paulista, mas também no Rio, São Luís, Porto Alegre. Por quê?A imagem de um ônibus em chamas é bastante impactante. Ela simbolicamente expressa uma revolta, uma quebra da ordem estabelecida. Em alguns casos, o ônibus é queimado em razão de algum problema experimentado por uma determinada comunidade, por exemplo, como uma enchente. Outras vezes, quando uma pessoa é morta pela polícia. Há situações em que os coletivos são colocados em chamas quando criminosos fogem após praticar um crime e o fazem para desviar a atenção da polícia ou quando organizações criminosas querem amedrontar a população. Pôr fogo em ônibus virou uma forma institucionalizada de se fazer protesto, de chamar a atenção e, algumas vezes, de causar pânico.O ato também acaba assustando muita gente. Acho legítimo que as pessoas fiquem preocupadas em pegar ônibus agora, afinal, no Maranhão uma criança morreu nessa situação. Mas não podemos esquecer que o ônibus é um dos poucos serviços públicos que chegam a regiões periféricas da cidade de São Paulo com frequência. Ou seja, eles representam o Estado. O fogo no ônibus é um grito contra um governo que não atende às necessidades das pessoas. As pessoas na periferia que queimam ônibus são em geral menores de idade que são incentivados a agir por membros da região que estão "de saco cheio".No geral, os problemas de junho não foram resolvidos. Os governos não lidaram com a enxurrada de demandas da população. As manifestações arrefeceram, mas as grandes demandas não foram atendidas e as pessoas continuam tendo problemas, principalmente na periferia.

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