24 de maio de 2015 | 03h41
SÃO PAULO - "Moradores, comunicamos que o abastecimento de água da Sabesp está mais crítico, isto é, pressão fraca e o tempo curto com água entrando nos reservatórios. Por esse motivo, estamos usando um número maior de caminhões para o abastecimento." O aviso acima está afixado há cinco dias na entrada do condomínio da aposentada Amélia Abrantes de Almeida, de 62 anos, no Limão, zona norte da capital paulista.
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Foi o jeito mais fácil que a subsíndica encontrou de informar os vizinhos que nem o rodízio interno no abastecimento dos dois prédios, iniciado em fevereiro, tem garantido um estoque mínimo de água para as 168 famílias. "Até janeiro, a situação estava sob controle, só com a economia que a gente fazia. Depois o negócio foi piorando. No começo, a gente chamava dois caminhões-pipa. Neste mês, até agora (dia 21), já foram 24, mais de um por dia. Senão, não tem condição", conta Amélia, que estima gastar R$ 15 mil com o serviço apenas em maio. "Vai dar R$ 100 por condômino, não tem jeito."
Segundo ela, o gasto extra com compra de água é maior do que o desconto de 30% na conta da Sabesp para quem reduz o consumo em ao menos 20%. "A gente ganha o bônus já faz tempo, mas com certeza o gasto é maior", diz. Cada caminhão de 15 mil litros custa R$ 450.
O custo é dividido pelos moradores, mas o trabalho adicional fica concentrado nas mãos do zelador José Manoel dos Santos, de 41 anos, que virou um fiscal da água. "Todo dia, eu abro o registro às 5h30 e fecho às 8h. Depois das 12h às 14h, e das 18h à meia-noite. Toda vez tem de medir o nível da água para ver se vai precisar chamar o caminhão. Se for contar só com a água da Sabesp não dá para fazer rodízio", comenta.
Segundo balanço da Sabesp, 94% dos condomínios da Grande São Paulo, que eram considerados os vilões do desperdício de água no início da crise, reduziram o consumo em abril. A companhia admite, contudo, que não é possível distinguir o que é economia espontânea, via programa de bônus, e o que é compulsória, por causa do racionamento, mas afirma que apenas 2% dos clientes são atingidos pela "redução da pressão na rede".
De acordo com o levantamento feito pela administradora de condomínios Lello, responsável por 1,6 mil prédios residenciais na capital, o maior índice de redução na conta de água foi em edifícios da zona norte, onde 86,3% obtiveram economia, seguido pelos empreendimentos da zona oeste (85,6%). Ambas as áreas são abastecidas pelo Sistema Cantareira, em que a situação e o racionamento são mais críticos.
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