Por dentro da Nova Palestina

Ocupação com 8 mil famílias na zona sul de São Paulo tem rigidez no controle de moradores e organização meticulosa

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Por Renato Vieira
Atualização:

SÃO PAULO - Quem trafega pela Estrada do M'Boi Mirim, na zona sul de São Paulo, nas proximidades do Parque Guarapiranga, na direção de Embu-Guaçu, vê à direita barracos de lona em várias cores. Do preto ao vermelho, do azul ao laranja. Mas o que chama a atenção daqueles que passam costumeiramente por ali é ver que o terreno, na região do Jardim Ângela, abandonado até novembro do ano passado, se tornou uma grande ocupação com 8 mil famílias, vindas de diversos pontos de São Paulo. São pessoas que deixaram para trás aluguéis considerados altos para seus padrões de vida e casas de parentes para ter um canto mínimo e precário para chamar de seu, com uma organização e controle que dariam inveja a muitos condomínios.

A entrada da ocupação é na Rua Clamecy. Uma espécie de guarita, onde ficam os representantes do MTST, é o "portão principal" da Nova Palestina, com dezenas de mosquitos, lama e muito calor. Homens enchem um galão de água puxada da rua para uso coletivo. "Aqui as pessoas vão se ajudando. Só assim a gente vai conseguir ter o mínimo de conforto", conta Jota.

'Andorinhas'. Meio-dia. Na cozinha do G1, duas mulheres preparam a comida. O cardápio do dia é arroz e frango. Os alimentos e os utensílios domésticos são doados pelos próprios moradores, que veem TV e ouvem música à espera do almoço. Um quadro define as regras da cozinha para os moradores. Acampados não podem entrar, discussões são proibidas, assim como fumo e palavrões. E, por último, mas não menos importante: "Quem não ajuda, não vai ter presença". Ou seja: sem pontos a acumular.

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Jota explica que o sistema serve para verificar quem realmente merece ter moradia. "O que a gente não quer aqui são 'as andorinhas', as pessoas que vêm e somem nas ocupações. A participação dos moradores é importante pra mostrar quem realmente necessita de casa". Segundo ele, 4 mil famílias estão na lista de espera para uma vaga na Nova Palestina.

Foi por causa do sistema de pontuação que o MTST conseguiu reunir 6 mil pessoas em um protesto que bloqueou a Marginal do Pinheiros e a Ponte do Socorro na sexta-feira, 10. O ato foi uma resposta à suspensão da política de desapropriações para construções de moradia e a declaração do prefeito Fernando Haddad, feita na semana passada, de que a construção de moradias para as 8 mil famílias degradaria toda a região e que a zona sul "precisava de um respiro". Consultada, a Prefeitura diz que a posição do município permanece a mesma.

Política. Jota afirma que o MTST é apartidário. "Se tiver de cobrar do PSDB, do PT, do PSOL, a gente cobra". Mas alguns dos líderes do movimento já participaram de reuniões com integrantes do PSOL, como Guilherme Boulos, da coordenação nacional da organização. Em 2012, ele foi convidado por Stan, candidato a prefeito de Taboão da Serra, para dar contribuição ao programa de governo.

"Quando somos chamados para falar sobre nossa experiência como movimento social, vamos. O que a gente quer é debater", afirma Boulos. Segundo ele, nenhum coordenador do movimento tem filiação partidária.

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Durante a visita do Estado à ocupação, assessores do vereador José Police Neto (PSD) estavam visitando o local. Consultados, eles disseram que se tratava apenas de uma "visita extra-oficial" e que o vereador está em férias.

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