Policiais presos por escoltar bandidos em fuga da Rocinha

Traficantes tentavam sair da favela, que deve ser alvo de uma ocupação policial no fim de semana; chefe do tráfico segue foragido

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Por PEDRO DANTAS e RIO
Atualização:

A Polícia Federal prendeu ontem à noite três policiais civis, um policial reformado e um ex-PM que faziam escolta para a fuga de cinco traficantes da favela da Rocinha, na zona sul do Rio. A expectativa é de uma invasão na área no fim da semana, com apoio das Forças Armadas. O comboio criminoso foi detido na Gávea, bairro vizinho, na frente do câmpus da Pontifícia Universidade Católica (PUC). Entre os criminosos, estava Anderson Rosa Mendonça, o Coelho, chefe do tráfico de drogas do Morro do São Carlos, que havia se refugiado na Rocinha desde que a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) ocupou a favela no centro. Dividido em quatro carros, o grupo levava 11 pistolas, 5 granadas, 3 fuzis (um deles dourado) e quantidade não informada de munição e drogas, além de vários maços de dinheiro, radiotransmissores, relógios e correntes de ouro e laptops. Mais adiante, próximo do Jockey Club, no Jardim Botânico, a PF prendeu um segundo grupo.Ontem, a polícia do Rio passou o dia cercando a favela da Rocinha. Antonio Bonfim Lopes, o Nem, chefe do tráfico local, ainda não foi encontrado. A informação de que policiais poderiam dar fuga ao chefe do tráfico levou agentes da Corregedoria Interna da Polícia Civil à favela. Havia um forte boato de que ele fugiria na viatura de uma delegacia especializada da Polícia Civil, que realizaria uma operação na região ontem. Agentes da Corregedoria estiveram nos acessos à favela, mas a suposta operação da polícia não aconteceu e ninguém foi preso. Trata-se do segundo relato de uma suposta participação policial na facilitação da fuga dos traficantes às vésperas da ocupação da Rocinha. Na terça-feira, o Serviço de Inteligência da Polícia Civil recebeu informações de que PMs ajudaram os traficantes a retirar armas e drogas. A Secretaria de Segurança informou que não comentará o assunto. Ligações perigosas. As suspeitas de ligação entre o tráfico da Rocinha e a banda podre da polícia são antigas. Em fevereiro, em depoimento à PF, um ex-informante da favela disse que dois soldados do Bope participavam de festas promovidas por Nem. Ele acrescentou que o chefe do tráfico pagava mesada de R$ 100 mil a quatro policiais lotados na Delegacia de Repressão às Armas e Explosivos e Delegacia de Combate às Drogas. O relato deu origem à Operação Guilhotina. Em março do ano passado, o ex-soldado da PM Carlos Henrique Pereira Januária, acusado de ser segurança de Nem, foi preso. Em agosto de 2007, o policial civil Sérgio Luiz de Albuquerque foi flagrado em escutas telefônicas avisando sobre uma operação policial na Rocinha. Desde a noite de terça-feira, 50 PMs do Batalhão de Choque estão nos acessos à Rocinha para evitar tumultos e fugas em "bondes", como são chamados os comboios de carros com traficantes armados. Policiais do Bope estão posicionados no mirante da Vista Chinesa, para evitar uma fuga pela mata.Moradores deixaram a Rocinha na manhã de ontem. Escolas e o comércio funcionaram normalmente. Mas, apavorados com a possibilidade de um banho de sangue no fim de semana, líderes comunitários procuraram Nem na terça. Ele garantiu que não haverá resistência à ocupação. / COLABOROU FÁBIO GRELLET

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