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Policiais da Rota suspeitos de execução dispararam 16 vezes

Corregedoria suspeita que tiroteio foi forjado por policiais para camuflar execuções

Por Luiz Fernando Toledo
Atualização:

SÃO PAULO - A Corregedoria da Polícia Militar suspeita que os 14 PMs membros da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) tenham forjado o tiroteio contra os dois rapazes que mataram na última semana, em Pirituba, zona norte de São Paulo. O depoimento de uma testemunha chave - um comparsa de um dos capturados pela PM - reforçou a tese e fez com que  os policiais tivessem a prisão temporária (por 30 dias) decretada pela  Justiça Militar na terça-feira, 11. Além disso, a Corregedoria acredita que pode ter havido abuso por parte das autoridades - quatro policiais dispararam, cada um, quatro tiros.

Viatura de policiais militares da Rota Foto:

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Segundo o corregedor da PM, coronel Levi Anastácio Félix, a testemunha ouvida apontou que um dos mortos teria sido preso horas antes em Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo. O homem foi capturado no dia seguinta em Diadema, na região metropolitana, e prestou depoimento à polícia.A distância entre Guarulhos e a avenida da suposta perseguição é de mais de 30 quilômetros. Isto levantou a hipótese de que as mortes não tivessem ocorrido no local apontado pelos policiais. 

Na versão dada pelos agentes, eles afirmaram que os homens morreram baleados após perseguição de carro na Avenida Doutor Felipe Pinel. Os PMs alegaram que os homens estavam armados com revólver, submetralhadora e que tinham até duas bananas de dinamite no carro.

Um dos homens teria descido do carro e começado a atirar, e então foi baleado. Os outros dois teriam batido o carro, tentado fugir - um deles trocou tiros com os agentes da Rota e morreu.

A testemunha, que não teve o nome divulgado, disse à polícia que tinha uma parceria com um dos homens que morreu, identificado apenas como "Herbert", para praticar furtos à residência em Diadema. O veículo usado  na fuga  estaria sendo usado para promover estes crimes quando o trio foi abordado pela polícia. 

A testemunha contou ter visto o momento em que Herbert foi pego pela Rota, colocado ao chão, e então decidiu ligar para a família do homem para avisar que ele tinha sido preso, em Guarulhos. Os familiares tentaram encontrá-lo em delegacias de Guarulhos e, ao não encontrá-lo, recorreram à corregedoria. "Isto fortaleceu o nosso conjunto probatório e subsidiou o pedido de prisão temporária", explicou o corregedor.

Provas. Agora, a Corregedoria tenta identificar a atividade de cada um dos 16 policiais e a sua participação na ocorrência. "Nosso trabalho agora é no sentido de individualizar a conduta dos policiais. Teve policial que atirou, que não atirou, que supostamente, no nosso entendimento, escoltou o veículo até o local da ocorrência. O caso não parou, está sendo intensamento investigado", disse o policial", disse Felix.

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Outra estratégia é realizar a perícia nas viaturas dos policiais. "Quero saber se a morte ocorreu realmente ali ou se eles já foram levados mortos, em que loccal isso aconteceu". A polícia também aguarda o resultado dos laudos necroscópios para constatar quantos dos 16 disparos atingiram os dois homens. Os policiais não ficaram feridos.

Segundo a corregedoria, os policiais presos já responderam a outros processos envolvendo mortes em ocorrências, mas em nenhum deles houve comprovação de homicídio. Um deles tinha 23 anos de experiência na Rota.

Felix afirmou que os PMs mantiveram a versão apresentada ao oficial após a ocorrência e, ao saber que existiam provas que contestavam esta versão, preferiram se manter em silêncio. A reportagem tentou contato com o advogado de defesa dos PMs, mas não teve retorno até às 19h.

O secretário de Segurança Pública Alexandre de Moraes afirmou que o acompanhamento da Corregedoria a todos os casos envolvendo mortes por policiais fez o índice letalidade no estado. "Em maio, junho e julho houve queda de 25% em relação ao mesmo período do ano passado", disse.

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