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Polícia faz reintegração de posse de prédio na Rua Santa Ifigênia

Cerca de 200 sem-teto tentaram impedir ação. Via foi bloqueada na manhã desta terça-feira, 15, na altura da Avenida Ipiranga

Por Luiz Fernando Toledo
Atualização:

Atualizado às 14h40

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SÃO PAULO - A Polícia Militar realizou durante toda a manhã desta terça-feira, 15, operação de reintegração de posse de um edifício no número 73 da Rua Santa Ifigênia, na região central de São Paulo, desde às 5h30. A rua ficou bloqueada entre os cruzamentos com as Avenidas Ipiranga e Cásper Líbero. 

Ao menos 230 famílias, na conta dos administradores da ocupação, deixam o prédio com mochilas, malas e sacolas. A Secretaria de Segurança Pública (SSP) afirmou que havia 282 pessoas no local.Ao menos quatro caminhonetes ficaram estacionadas na via para levar os móveis. A invasão ocorreu há seis meses. 

Segundo os administradores da ocupação, 230 famílias viviam há seis meses no prédio localizado na Rua Santa Ifigênia, na região central de São Paulo Foto: Gustavo Lopes/Estadão

De acordo com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP), a ação foi determinada pelo juiz Sérgio da Costa Leite, da 33ª Vara Cível do Fórum Central, a pedido da empresa Savoy Imobiliária e Construtora Ltda., proprietária do imóvel. Segundo os moradores da ocupação, o prédio tem 13 andares e é composto por salas comerciais.

Um protesto com cerca de 200 sem-teto tentou impedir a reintegração às 7h30, segundo a PM. O movimento Luta por Moradia Digna (LMD), responsável pela ocupação, acompanha o ato da polícia.

A SSP afirma que houve acordo prévio com moradores e órgãos do governo como a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS), Secretaria Municipal de Habitação, bombeiros, CET e outros. 

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"Foi tranquila. Agrupamos pessoas em frente ao prédio para resistir, mas depois houve negociação", disse a militante Cristiane Mendes. Segundo moradores, a entrada do edifício foi aberta pelos policiais com uso de maçarico. 

A SSP afirma que houve acordo prévio com moradores e órgãos do governo, como a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS), Secretaria Municipal de Habitação, bombeiros, Companhia de Engenharia de Tráfego e outros. 

"Já que os governos federal, estadual e municipal não se preocupam, temos que nos virar de alguma forma. Somos pessoas de bem, vamos ter que morar na rua?", questionou Cristiane. 

A recicladora Dilma Silva da Costa, de 58 anos, veio cedo ao local para socorrer o filho João Maria Silva da Costa, de 35, que é morador da ocupação. Ele vivia no prédio com mulher e dois filhos, um de quatro anos e um bebê de quatro meses. "Qual mãe não se preocupa com o seu filho? Vim para ajudar", disse ela, que também mora em um prédio ocupado do centro da cidade, há três anos. Na casa, João precisará remover fogão, botijão de gás, roupas e um colchão.

A auxiliar de limpeza Rosimara de Araújo Teixeira, de 49 anos, ficou quatro meses na ocupação mas foi expulsa depois de brigar com um dos coordenadores. Ela estava no local tentando localizar o marido e a filha, que ainda moravam ali. "Vim para tirar as coisas", adiantou a um policial.

Rosimara disse que pagou R$ 150 pela vaga para todo o mês de julho, mas foi impedida de entrar há dois dias, depois da briga. Nos próximos dias, deverá ficar hospedada na casa de uma amiga em Perus, na zona norte. 

A intenção dos moradores é que parte dos que estavam no prédio da Santa Ifigênia sejam reinstalados em outro imóvel ocupado no centro, na Avenida São João. O local exato não foi divulgado.

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Procurada pela reportagem do Estado, a Savoy Imobiliária e Construtora Ltda. não se pronunciou.

Repercussão. Moradores da região, comerciantes e clientes se aglomeraram em frente à barreira montada pela PM, no cruzamento com a Avenida Ipiranga, para ver o que acontecia. Muitos saíram irritados por não poder passar ou perder o dia de trabalho, já que o ponto tem grande concentração de lojas e lanchonetes. 

José Pimenta, de 63 anos, era um deles. O dono de um box que vende açaí foi impedido de acessar seu comércio e foi embora. "Nunca tive problema com essas pessoas. Nem sabia que era uma ocupação", afirmou.

Já a auxiliar de enfermagem Julia Rodrigues dos Santos, de 54 anos, reclamou de barulho na região. Ela é moradora de um prédio próximo à ocupação, na Avenida Ipiranga. Ela afirmou estar há cinco anos no apartamento financiado e critica o movimento. "O povo acha que por estar vazio, não tem dono. Não é assim", disse. E especula: "Deve ter político por trás disso aí".

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