29 de novembro de 2010 | 00h00
RIO
Sete dias após o primeiro ataque da semana de terror no Rio, 2.700 homens das Polícias Civil, Militar e Federal e das Forças Armadas entraram ontem no Complexo do Alemão, na zona norte. Não houve o combate que se esperava. Tampouco foram presos os chefes do tráfico da Vila Cruzeiro, Fabiano Atanazio, o FB, e do Alemão, Luciano Martiniano da Silva, o Pezão.
A inteligência da polícia recebeu informações de que FB teria fugido para a Favela da Mangueira ou para Manguinhos, ambas dominadas pelo Comando Vermelho (CV). Há informações de que parte dos cerca de 500 traficantes que a polícia estimava estarem no complexo fugiu para a Rocinha, dominada pela facção Amigos dos Amigos (ADA).
O secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, disse que Rocinha e Vidigal, ambas na zona sul, estão entre os próximos objetivos da polícia. "Quem apostar na derrota, vamos dobrar a aposta. Se chegamos ao Alemão, vamos chegar à Rocinha e ao Vidigal", afirmou. Beltrame classificou o Alemão como "coração do mal" e prometeu manter a ocupação da área.
Beltrame minimizou o baixo número de prisões - cerca de duas dezenas. "Há marginais presos, há marginais que fugiram e posso garantir que os que fugiram, sem arma, sem casa, sem território, são muito menos do que eram antes", disse.
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Duas prisões foram consideradas estratégicas pela polícia. Uma é Sandra Helena Ferreira Maciel, a Sandra Sapatão, que era do Jacarezinho - região já dominada por uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) - e, segundo a polícia, ligada aos traficantes Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, e Luís Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar. Outra foi a do traficante Elizeu Felício de Souza, o Zeu, um dos condenados pelo assassinato do jornalista Tim Lopes.
Um traficante e duas pessoas não identificadas morreram. Um morador ficou ferido, sem gravidade. Segundo a polícia, 40 toneladas de maconha e 150 kg de cocaína foram apreendidos, além de 50 fuzis e munição.
Varredura. A invasão foi rápida. Em 1h30 de ataque, o domínio da área central do complexo estava consolidado, embora ainda houvesse resistência em pontos de difícil acesso. Em seguida, a polícia iniciou a varredura, de casa em casa - seriam 30 mil no local. O trabalho seguirá nos próximos dias. "Todas as casas serão revistadas. Beco por beco, buraco por buraco", afirmou o comandante-geral da PM, Mario Sergio Duarte. Com 1h30 de operação, ele declarou: " Vencemos, vencemos. Trouxemos a liberdade para a população do Alemão".
O delegado Ronaldo Oliveira, coordenador das delegacias especializadas da Polícia Civil, disse que a operação "deixa claro que é mentira dizer que a polícia entra em favela atirando". ""Policiólogos" de plantão falam besteira", ironizou Oliveira, o primeiro a hastear uma bandeira do Brasil na estação do teleférico.
Antes da ocupação, chefes do tráfico baixaram uma ordem impedindo que os moradores deixassem a região antes e durante a ocupação. Quem saísse perdia a casa e os móveis. Também ficaria sujeito a julgamento pelos "comandantes" do tráfico.
O comerciante João Aparecido Alves, morador do local há 22 anos, foi ameaçado depois de mandar a mulher e os filhos para Cabo Frio. Disseram a ele que, se não os trouxesse de volta, seria morto. Alves pediu proteção à polícia. O morador Glauco Pereira foi autorizado a sair com a mãe doente, mas precisou deixar os dois filhos como garantia de que voltaria.
As notícias de violência no Rio chamaram a atenção da imprensa internacional e do papa Bento XVI, que expressou solidariedade às famílias das vítimas da violência em mensagem enviada ao arcebispo do Rio, d. Orani Tempesta. A aprovação da ação entre a opinião pública predominou, mas moradores do Alemão esperam mais que policiais a postos em sua comunidade.
O governador do Rio, Sérgio Cabral Filho (PMDB), indicou que as Forças Armadas devem continuar a apoiar as operações de recuperação de áreas dominadas pelo tráfico. "As nossas Polícias, Civil e Militar, continuarão trabalhando articuladas com as Forças Armadas e a Polícia Federal para que possamos reconquistar mais territórios."
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