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Polêmica sobre estação de metrô ''assumiu tom de luta de classes''

Por Flavia Tavares
Atualização:

Silvana Rubino, professora da UnicampA discussão em Higienópolis escapou dos trilhos da argumentação urbanística e atravessou para o campo da luta de classes, segundo Silvana Rubino, chefe do Departamento de História da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Especializada em Antropologia Urbana, ela mora no bairro há quatro anos.Como a senhora avalia a polêmica do metrô em Higienópolis?Quando veio a notícia sobre a recusa da Associação Defenda Higienópolis há alguns meses, recebi o abaixo-assinado. Não levei a sério. Achei que era uma minoria do bairro. Não imaginava que fosse chegar a 3,5 mil assinaturas e, muito menos, que o governo fosse acatar o pedido desses moradores (O Metrô diz que decisão foi exclusivamente técnica).E o que a senhora acha? O argumento de que as estações seriam próximas é ruim, os moradores não têm condição técnica para discutir isso. Parece ter escapado à associação que metrô não é só para quem vive no bairro. Os moradores não têm o direito de lutar pela preservação local?Sim, é uma tentativa de apropriação do espaço. A questão é que, neste caso, o argumento de parte dos moradores envolveu a expressão "gente diferenciada". Foi um jeito infeliz de dizer que eles temiam que pobres invadissem a área. Nenhum bairro tem o direito de querer que pessoas passem ou não por ali. Esse sentimento de apropriação do bairro pode ter lado positivo?Claro. Se alguém decidir derrubar árvores da Praça Buenos Aires, é importante ter mobilização. Mas também precisa haver mobilização se decidirem colocar um portão que selecione quem entra.Por que o episódio gerou tanta repercussão e agressividade?Porque infelizmente ele assumiu tom de luta de classes. Vale questionar por que esse tom apareceu. Porque, na nossa cultura política, estamos acostumados a ver certas demandas serem atendidas e outras, não. Veja: 3,5 mil pessoas em São Paulo não representam quase nada. O que as pessoas questionam é se 3,5 mil assinaturas na Cidade Tiradentes teriam o mesmo impacto.Pode haver racha entre grupos?Já aconteceram manifestações graves e preconceituosas dos dois lados: uma postura higienista dessa minoria e até antissemitismo de poucos a favor do metrô. Pode haver a consequência de separar ainda mais. É aí que o governo não pode entrar na cilada. Ao ceder ao abaixo-assinado, confirma que só alguns têm voz. Mas é uma chance de o poder público dizer: "Sinto muito, o bem geral é mais importante."

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