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Policial militar ria durante execução, afirma testemunha

Enquanto soldado atirava, policial feminina dava risada; laudo mostra que outra vítima estava ajoelhada e tentou se defender

Por Alexandre Hisayasu
Atualização:

SÃO PAULO - Enquanto um policial militar apertava o gatilho, a soldado Mariane de Moraes Silva Figueiredo dava risadas. É o que revela o depoimento de uma testemunha que presenciou os PMs executando Paulo Henrique de Oliveira, que estava rendido e desarmado. Essa é umas das principais provas da Corregedoria da Polícia Militar para afirmar que Oliveira e seu amigo Fernando Henrique da Silva foram assassinados, em 7 de setembro, no Butantã, na zona oeste da capital.

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Segundo as investigações, os dois estavam em uma moto roubada e tentaram roubar outra quando foram localizados e perseguidos por policiais militares na região do Butantã. Depois de dominados, foram executados. Onze PMs estão presos por determinação das Justiças comum e militar.

O Estado teve acesso ao Inquérito Policial-Militar (IPM) do caso. A testemunha mora na frente do local onde Oliveira foi executado pelos PMs. Nas imagens gravadas por câmeras de segurança, o rapaz sai de trás de uma lixeira, se rende e é algemado. Depois, é levado para atrás de um muro, tem as algemas retiradas e é executado. Em seguida, um PM coloca uma arma ao lado da vítima.

A testemunha afirmou que estava no quintal de sua casa quando viu Oliveira sair da lixeira e um PM gritou para que ele deitasse no chão. Depois, a testemunha contou que viu Oliveira ser algemado e levado para atrás do muro. Lá, os policiais perguntavam sobre uma arma, mas o rapaz dizia que não tinha.

Ainda segundo ela, os PMs tiraram as algemas de Oliveira, que gritava “que iria ser morto”. Um PM atirou no chão e, em seguida, o rapaz sentou na calçada. “Um dos policiais efetuou disparo contra este indivíduo a uma distância de aproximadamente meio metro.”

Risos. O depoimento ajudou a Corregedoria a pedir a prisão dos policiais. Pela morte de Oliveira estão presos os soldados Tyson Oliveira Bastiane, Silvano Clayton dos Reis, Silvio André Conceição, Mariane de Morais Silva Figueiredo e Jackson da Silva. Segundo a Corregedoria, Bastiane atirou na vítima, Reis colocou a arma – uma pistola calibre 380 – na cena do crime e Mariane deu cobertura para a ação. Durante o reconhecimento da policial na Corregedoria, a testemunha contou que a soldado “dava risadas a todo momento” durante a ação. Os demais PMs foram coniventes com a situação, segundo o IPM.

A outra vítima – Fernando Henrique da Silva – se escondeu em uma casa e foi dominado no telhado. Uma gravação feita por celular mostra que ele foi empurrado por um PM de uma altura de quase 10 metros. Depois, dois disparos foram feitos. Um relatório no IPM mostra que o rapaz caiu de joelhos e tinha duas perfurações na altura da barriga. Além disso, ele teve o dedo de uma das mãos dilacerado por um tiro o que, segundo as investigações, indica que ele teria tentado se defender.

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Pela morte dele estão presos o tenente Angelo Felipe Mancini, o cabo João Maria Bento Xavier e os soldados Paulo Eduardo Almeida Hespanhol, Flavio Lapiana de Lima, Fabio Gambale da Silva e Samuel Paes. Segundo o promotor Rogério Zagallo, a investigação tem provas técnicas e testemunhais de que os 11 PMs participaram da execução dos dois rapazes.

Comando. Nesta quinta-feira, o comandante-geral da PM, coronel Ricardo Gambaroni, postou um vídeo para a tropa. Ele diz aos policiais que não serão toleradas violações aos direitos humanos nas ocorrências. “O nosso maior direito é o direito à vida, e o nosso maior dever é preservá-la. Não cabe a nenhum de nós, enquanto profissionais de polícia, decidir sobre a vida do infrator por maior que tenha sido o crime cometido”, afirmou.

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