PM apreende só 18 máscaras com 262 detidos em protesto contra a Copa

O comando da PM afirmou que o cerco nos manifestantes e as prisões fizeram parte da estratégia de se antecipar ao iminente ataque que seria promovido pelos black blocs

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Por Fabio Leite
Atualização:

Embora o polêmico cerco feito pela Polícia Militar aos manifestantes do ato contra a Copa no dia 22, no centro de São Paulo, tivesse os black blocs como alvo, apenas 18 máscaras, gorros, bandanas ou roupas pretas que seriam usadas por adeptos da prática de vandalismo para cobrir o rosto foram apreendidas com os 262 detidos levados de ônibus a sete distritos policiais da capital.

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Levantamento feito pelo Estado nos boletins de ocorrências feitos pela PM naquela noite mostra ainda que foram apreendidos com o grupo um artefato com pavio semelhante a um coquetel molotov, um estojo com gás pimenta, uma faca, um estilete, um martelo, um canivete, dois rojões, dois estilingues, dois pedaços de corrente e cinco pedras. Como não houve nenhum flagrante, todos foram liberados.

A megaoperação da PM, que marcou a estreia do "pelotão ninja", foi considerada "exitosa" pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) porque reduziu os danos ao patrimônio, os confrontos e os feridos, segundo a polícia. O comando da PM afirmou que o cerco nos manifestantes e as prisões fizeram parte da estratégia de se antecipar ao iminente ataque que seria promovido pelos black blocs.

Ao levar 35 detidos no cerco feito na Rua Xavier de Toledo para o 2º DP (Bom Retiro), a PM relatou no BO que "todos estavam mascarados" e que após "um desentendimento mútuo" um dos PMs que fazia a segurança do local foi agredido por manifestantes não identificados. Na delegacia, contudo, nenhuma máscara ou arma foi apreendida com o grupo, que foi liberado de madrugada.

"A versão policial é falaciosa. Não havia um mascarado nesse grupo. O que eles fizeram foi armar uma emboscada para acabar com uma manifestação pacífica", disse o estudante Igor Feitosa Tanaka, de 25 anos, um dos 35 manifestantes levados ao 2º DP, que registrou um BO de natureza não criminal. Nas outras delegacias, as ocorrências foram registradas como desacato, resistência e lesão corporal a PMs.

Na prática, as detenções serviram para qualificar os manifestantes, ou seja, registrá-los no sistema da Polícia Civil e fotografá-los. Os boletins mostram que no grupo há manifestantes entre 15 e 46 anos. A maioria é estudante, mas há também professores, atriz, jornalista, fotógrafo, biológo, carteiro e até um morador de rua.

"Os policiais fecharam o cordão de repente e mandaram todos sentarem, mas não tinha espaço, e muita gente apanhou. Quase não tinha black bloc nesse grupo. Eu estava de camisa branca e calça jeans, sem máscara, sem mochila. Foi um abuso absurdo", disse o servidor público José Duarte, de 46 anos.

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O 8 º DP (Brás), foi o que recebeu o maior número de detidos, 77 ao todo. Também sem máscara, arma, ou flagrante todos foram liberados. Já no 3º DP (Campos Elíseos), a PM apreendeu R$ 984 com o digitador Vinícius Souza Ruiz, de 25 anos, registrado como um dos organizadores do protesto, mais de uma hora antes do tumulto. A polícia suspeita de que o dinheiro seria usado para pagar manifestantes.

"Acham que eu estava financiando o quebra-quebra. Não faz o menor sentido. Eles pegaram o meu salário. Paguei caro por uma coisa que não fiz", disse Ruiz. Após três anos participando de protestos, ele disse que vai abandonar as manifestações após a detenção no último sábado.

Em nota, a PM afirmou que "um black bloc não usa máscaras como única forma de esconder o rosto em protestos" e que, "na maior parte das vezes, utilizam-se de camisetas e outros artifícios". "É fato que a Polícia Militar identificou pessoas depredando patrimônio público de cara limpa. Além disso, podem se utilizar de vários objetos, inclusive retirados da própria via pública, para executarem seus atos de vandalismo", afirmou.

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Segundo a corporação, "a ação policial não pode se basear apenas em elementos como os apontados pela reportagem, mas também, e principalmente, em ações de inteligência e no comportamento dos agressores".

Já a Secretaria da Segurança Pública informou que o delegado da 1ª seccional Centro, Kleber Altale, está compatilhando com o Departamento de Estadual Investigação Criminal (Deic) os registros feitos nos sete DPs. O Deic é o responsável pelo inquérito-mãe que apura a participação dos black blocs nas manifestações. Segundo o delegado, "cabe à autoridade policial avaliar os objetos apreendidos, tendo como base cada uma das ocorrências registradas".

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