PM alega legítima defesa em 4 mortes da Maré

Familiares dos nove civis mortos prestarão depoimento nesta quinta-feira, 4, à Polícia Civil

PUBLICIDADE

Por Marcelo Gomes
Atualização:

RIO - A Polícia Civil do Rio já identificou a autoria de quatro das dez mortes ocorridas durante a operação do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar no Complexo da Maré, na zona norte da cidade, entre a noite do dia 24 e manhã de 25 de junho. Os autores são PMs do Bope que, em depoimento à Divisão de Homicídios (DH), alegaram que atiraram contra as vítimas em legítima defesa, o que configurariam autos de resistência. A DH, no entanto, aguarda a chegada de laudos periciais para concluir se as vítimas realmente foram mortas em confronto ou executadas sem reagir. Familiares dos nove civis mortos prestarão depoimento nesta quinta-feira, 4, à Polícia Civil.

PUBLICIDADE

 Três das vítimas foram mortas dentro de uma casa na Rua São Jorge, na favela Nova Holanda. Fabricio Souza Gomes, de 26 anos, tinha três passagens pela polícia por homicídio, uma por porte ilegal de arma, uma por lesão corporal e outra por ameaça. Contra ele havia um mandado de prisão temporária. Renato Alexandre Mello da Silva, de 39 anos, possuía sete anotações por roubo, uma por tráfico e outra por furto. Já cumpriu pena no sistema carcerário. André Gomes de Souza Júnior, de 16, tinha três passagens por furto. A reportagem do Estado esteve no local horas após o episódio. O imóvel estava completamente revirado e com marcas de sangue por todo lado.

A quarta vítima foi morta em um sobrado na Rua Carmelita Custódio. Acompanhada de lideranças comunitárias, a reportagem tentou entrar no imóvel no dia 25, mas foi impedida por PMs do Bope, que alegaram estar aguardando a perícia. O morto foi identificado como Ademir da Silva Lima, de 29 anos. Segundo a Polícia Civil, ele tinha uma anotação criminal por homicídio; uma por roubo e uma por furto.

Entre os mortos na operação havia um policial da tropa de elite, Ednelson Jerônimo dos Santos Silva, de 42 anos. Dos nove civis, dois não tinham antecedentes criminais, segundo a Polícia Civil. O Bope foi acionado depois que criminosos infiltrados em uma manifestação iniciada em Bonsucesso, na zona norte, praticaram um arrastão na Avenida Brasil, na altura da favela Nova Holanda. Policiais do Batalhão da área foram acionados para conter os assaltos em série, mas acabaram atacados por traficantes da comunidade. Acuados, pediram auxílio ao Bope, que iniciou a operação na favela.

Comandante não sabia. Em nota divulgada nessa quarta-feira, 3, a PM confirmou que a ordem para a entrada do Bope na Maré não foi dada pelo comandante da unidade, coronel Renê Alonso. Segundo a PM, a tropa de elite foi acionada a pedido do coronel Hugo Freire, comandante do Comando de Operações Especiais (COE), a quem o Bope é subordinado, e a entrada na favela foi autorizada pelo chefe do Estado Maior Operacional, coronel Alberto Pinheiro Neto.

A nota foi divulgada em resposta à reportagem publicada nessa quarta pelo jornal Extra, na qual Alonso admitiu que não sabia da operação do Bope antes do seu início. A declaração causou desconforto, já que na mesma reportagem o jornal afirma que a Divisão de Homicídios, que investiga as mortes na Maré, quer saber quem deu a ordem para o Bope entrar na favela. "Tão logo tomou conhecimento do emprego da tropa, o tenente-coronel Renê Alonso, comandante do Bope, foi para o local e assumiu o comando da operação até o final", diz a PM.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.