
07 de abril de 2010 | 00h00
O maior temporal em 44 anos deixou 103 mortos no Rio até 23 horas, segundo dados do Corpo de Bombeiros e das prefeituras: 48 em Niterói, 36 na capital, 16 em São Gonçalo, 2 na Baixada Fluminense e 1 em Petrópolis, na Região Serrana. A maioria das vítimas morava em áreas de encosta, como em Santa Teresa, onde os deslizamentos mataram 14. A prefeitura do Rio calcula que ao menos 1.410 pessoas estão desabrigadas, 368 desalojadas, 56 feridas e 4, desaparecidas.
Em 15 horas, das 17h de segunda-feira até 8h de ontem, choveu 288 milímetros. Mais do que no trágico ano de 1966, quando choveu 245 mm durante 24 horas, deixando 250 pessoas mortas e 50 mil desabrigados. O maior número de vítimas foi em 1988, quando 15 dias de chuva deixaram cerca de 570 mortos.
O Rio viveu um dia de caos. Logo pela manhã, o prefeito Eduardo Paes pediu que os moradores de áreas de encosta deixassem as casas. Das 17h de segunda até as 15h de ontem, a Defesa Civil da capital registrou 552 chamados. A região metropolitana parou. Escolas públicas e particulares cancelaram as aulas. Bolsões de água nas principais ruas e avenidas impediram a circulação de carros e ônibus. Empresas dispensaram seus funcionários. O Centro do Rio ficou praticamente deserto. Doze bairros ficaram sem luz, prejudicando cerca de 30 mil pessoas. À noite, voltou a chover forte e havia risco de mais deslizamentos.
Lagoa. O carioca enfrentou transtornos durante todo o dia e em vários pontos da cidade. A Lagoa Rodrigo de Freitas, cartão-postal da cidade, transbordou e invadiu as pistas. Os pedalinhos chegaram a ser carregados até o meio da rua. A circulação dos trens teve de ser alterada. A Ponte Rio-Niterói ficou fechada durante duas horas. Cerca de 60% dos voos atrasaram no Aeroporto Santos Dumont, que ficou fechado por quase três horas.
A previsão da meteorologia é de que as chuvas continuem até amanhã. Mas, de acordo com o professor da Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio, Jorge Henrique Prodanoff, temporal como o de ontem só daqui a meio século.
Como a previsão é de mais chuvas, porém, a cidade está em alerta. O presidente da Light, Jerson Kelman, não descarta a possibilidade de blecaute, caso volte a chover forte. As escolas públicas não vão funcionar e a prefeitura pediu que as particulares também continuem fechadas hoje. Os batalhões da PM estão recebendo desabrigados. A prefeitura lançou a Campanha de Arrecadação de Donativos para auxiliar a população desabrigada
Copa e Olimpíada. A tragédia de ontem levou o presidente Lula, que estava no Rio, a apelar a Deus. Apesar da situação caótica, Lula procurou reafirmar as condições do Brasil em receber a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. "Junho e julho são meses mais tranquilos. O Rio está preparado para fazer olimpíada e para fazer Copa do Mundo, com muita tranquilidade." / MÁRCIA VIEIRA, BRUNO BOGHOSSIAN, PEDRO DANTAS, CLARISSA THOMÉ, FELIPE WERNECK, LUCIANA NUNES LEAL, KELLY LIMA, GABRIELA MOREIRA, WILSON TOSTA e ROBERTA PENNAFORT
CRONOLOGIA
Cinco décadas de tragédias
Janeiro de 1966
Enchentes e deslizamentos deixam 250 mortos e 50 mil desabrigados. Chove 245 milímetros em 24 horas
Fevereiro de 1971
Depois de longa estiagem,
chove forte no fim do mês - 171 pessoas morrem e 20 mil telefones emudecem
Fevereiro de 1987
Chove forte em Petrópolis, Teresópolis e Rio. Morrem 292 pessoas e 20 mil ficam desabrigadas
Fevereiro de 1988
Chove forte durante todo o mês. Entre o dia primeiro e o dia 19, morrem 572 pessoas na capital, em Petrópolis e na
Baixada Fluminense
Janeiro de 1999
Enchentes na capital e em municípios do Vale do Paraíba e da Região Serrana deixam 41 mortos, 72 feridos e 180
famílias desabrigadas
Janeiro de 2010
Temporal no primeiro dia do ano faz 74 vítimas no Estado. Angra dos Reis foi a região mais atingida: 52 pessoas
morreram soterradas em deslizamentos
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