Piloto que bateu em avião da Gol nunca tinha voado em Legacy

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Por Vannildo Mendes e BRASÍLIA
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Em depoimento de quase sete horas à Justiça, o piloto americano Jan Paul Paladino confirmou ontem que nunca havia pilotado um jato executivo Legacy, feito pela Embraer, antes do voo que terminou em uma colisão com um Boeing da Gol e que deixou 154 mortos, em agosto de 2006. No entanto, ele garantiu ter pilotado aviões similares.Paladino disse que aquela foi a segunda vez que comandou um voo internacional - o primeiro havia sido um ano antes.O piloto afirmou que recebeu instruções da torre de controle aéreo de Brasília para continuar a 37 mil pés de altura, a mesma altitude em que o Boeing vinha de Manaus. Ele deveria baixar para 36 mil pés ao cruzar a cidade, conforme mandava o plano de voo, e seguir até o ponto virtual Teres, quando deveria subir para 38 mil pés. Mas o piloto não questionou a ordem do controlador e seguiu na rota até a colisão. O Legacy, mesmo avariado, conseguiu pousar.Falhas. Paladino disse que teve sérias dificuldades de comunicação com os controladores de tráfego aéreo, que não dominariam o idioma inglês, e negou que o transponder do Legacy, equipamento que poderia ter evitado o desastre, tenha sido desligado. Mas complicou-se ao explicar a informação, contida na caixa-preta e confirmada em laudos periciais, de que o aparelho foi desligado durante o voo. A maior prova é um diálogo do piloto com o auxiliar logo após o choque, em que os dois constatam que o equipamento estava "off" e 35 segundos depois ele aparece "on" no registro da caixa-preta. Paladino disse que a aviação brasileira tem, no geral, a mesma complexidade da americana, mas reclamou da "grande barreira da língua" que encontrou no contato com os controladores de tráfego do País. Afirmou também que houve atraso na entrega do plano de voo, o qual só recebeu meia hora antes da partida e mal os dois tiveram tempo de conferir as coordenadas. Julgamento. O depoimento foi dado por videoconferência, já que Paladino vive nos Estados Unidos. Hoje será ouvido o copiloto Joseph Lepore. É a primeira vez que os dois prestam depoimento oficial à Justiça brasileira. "Ele deu uma versão previsível, combinada com advogados, para explicar o inexplicável e fugir das responsabilidades que tiveram no acidente", afirmou o promotor Dante D"Aquino.Os pilotos e os controladores são acusados de "atentado contra a segurança da aviação", por atitude negligente e podem ser condenados a até cinco anos de reclusão. O juiz Murilo Mendes, da comarca da Sinop, que preside o processo, informou que agora será aberto prazo para alegações finais da acusação e defesa e a seguir profere a sentença, o que espera fazer ainda em abril.A decisão comporta recurso e o caso pode se arrastar por anos, aumentando as chances de prescrição do crime, conforme temem os familiares das vítimas, presentes em grande número à sessão de videoconferência.

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