
08 de março de 2015 | 02h04
O trabalho, realizado por pesquisadores da University College London (UCL) e publicado na sexta-feira passada no jornal Daily Mail, investigou dados de nove pesquisas anteriores do Reino Unido, feitas no período de 1979 a 2003, com dados de mais de 174 mil participantes.
O consumo começa com cerca de cinco unidades por semana, aos 15 anos, sobe para algo como dez a 15 unidades na adolescência e atinge o pico de 20 unidades semanais no início dos 20 anos. Esse padrão de consumo concentrado, com muitas doses de bebida em poucas ocasiões, é o que os especialistas chamam de "binge drinking" (beber de forma mais pesada).
O "binge drinking" é o que mais expõe a pessoa, principalmente os mais jovens, aos riscos da bebida. Como o organismo demora uma hora, em média, para metabolizar uma unidade de álcool, ao consumir cinco a dez unidades em um curto espaço de tempo, não há recursos fisiológicos para livrar o consumidor dos efeitos mais nocivos. Assim, convulsões, coma alcoólico e parada respiratória, entre outras consequências temíveis, são mais comuns.
No Brasil, essa forma de beber também é mais comum entre adolescentes e jovens. Além dos riscos agudos, alguns trabalhos mostram que a chance de padrões mais complicados de consumo de álcool na vida adulta (como a dependência) são mais comuns entre aqueles que abusaram da bebida quando mais jovens.
Morte em Bauru. Na semana passada, muito se falou sobre a morte de um estudante de 23 anos durante uma festa "open bar" (bebida à vontade) de alunos da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Bauru. Ele teria ingerido 25 doses de vodca em uma espécie de competição que incentivava um maior consumo de bebida.
Um laudo do Instituto Médico-Legal (IML) revelou que o jovem tinha alterações cardíacas prévias (dilatação do coração e estreitamento das coronárias), que podem ter sido potencializadas pelo excesso de álcool, causando enfarte. Mesmo sem essas condições prévias, a elevada quantidade de bebida traria riscos importantes.
A morte do estudante revela uma situação preocupante. As festas do tipo "open bar" têm crescido no Brasil nos últimos anos, muitas vezes organizadas por empresas de eventos para jovens. Não é incomum que os organizadores ou os centros acadêmicos consigam patrocínio ou descontos especiais para a compra de bebida com algumas marcas, sobretudo de cerveja.
As festas, que também cresceram em tamanho, poucas vezes têm ações de redução de danos ao consumo excessivo de álcool, como água e alimentos disponíveis gratuitamente, esquema de transporte franqueado para os participantes (táxis, vans ou ônibus) ou equipe médica e de remoção disponíveis.
Também não há ações que estimulem um consumo moderado, uma vez que a própria lógica "open bar" é o grande chamariz desse tipo de evento, que, diga-se de passagem, encontra ampla aceitação entre os universitários e jovens em geral.
Assim, mesmo quem não bebe com frequência ou quem tem um consumo eventual e controlado, de alguma forma, se sente mais estimulado a beber mais e aproveitar a ocasião. Importante seria pensar em estratégias que rompam o tripé "música boa, gente bonita e bebida até cair" por uma cultura de beber que remeta à diversão com consumo responsável. Será que eles compram essa ideia?
* É psiquiatra
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