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Pesquisadores do samba veem interesse pelos desfiles em risco

Indiferença das pessoas em relação às escolas e das escolas em relação às pessoas estão no centro das preocupações, dizem especialistas

Por Roberta Pennafort
Atualização:

Para pesquisadores do samba, hoje o interesse pelos desfiles das escolas de samba está em risco. Presente aos desfiles desde os anos 70, Felipe Ferreira, coordenador do Centro de Referência do Carnaval da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), enxerga não só a indiferença das pessoas em relação às escolas, mas das escolas em relação às pessoas. Ele lista como problemas o som da avenida, que abafa o canto dos componentes; a redução do número de alas comerciais, em que os integrantes compram as próprias fantasias e têm mais liberdade para evoluir (nas chamadas alas da comunidade, com fantasias distribuídas pela escola, há regras mais rígidas sobre ensaios e a forma como se portar na pista); e a iluminação, que foca as alegorias e deixa os passistas em segundo plano.

Em 2016, a escola de Nilópolis (Baixada Fluminense) vai contar a história de Cândido José de Araújo Viana, o Marquês de Sapucaí, que dá nome à rua do Rio transformada em passarela do samba Foto: EFE

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“Tudo isso vai desanimando as pessoas. A existência de shows nos camarotes está em sintonia com esse desinteresse: foi preciso criar atrativos para as pessoas irem ao Sambódromo, como se as escolas não fossem o bastante. É trágico”, lamenta Ferreira. A Liesa rechaça a tese de falta de interesse do público. O coordenador de vendas de ingressos, Heron Schneider, há 25 anos no cargo, informou que desde a ampliação da capacidade do Sambódromo em 12,5 mil lugares, em 2012, tem ocorrido o encalhe de 2 mil ingressos de arquibancada, que só saem às vésperas do desfile. As reservas começam em setembro do ano anterior – frisas e camarotes. Em dezembro e janeiro são vendidas as arquibancadas. Até ontem, havia 400 disponíveis.

Este ano, a novidade foi a sobra de 36 camarotes, que custam de R$ 50 mil a R$ 84 mil e foram doados às escolas de samba – três para cada –, que poderão entregar os ingressos a colaboradores ou vendê-los. “Isso aconteceu porque as empresas acabaram com seus camarotes de relacionamento por causa da crise.”, disse Schneider.

A pesquisadora Rachel Valença, que acompanha os desfiles há cinco décadas acha que o modelo atual está cada vez mais afastado daquilo que as pessoas gostam de assistir. Para Paulo Barros, carnavalesco da Portela, existe uma crescente apatia do público. “Isso é muito sério e vem de alguns anos, e a questão da transmissão da TV Globo reflete isso, assim como a sobra de ingresso. Com exceção de quem é apaixonado por carnaval, o público acha tudo igual..”

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