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Pesquisa sobre soja volta à estaca zero

Serão necessários 4 anos para formar pesquisador com os mesmos conhecimentos de mestrando que morreu

Por Elder Ogliari
Atualização:

PORTO ALEGRE - A interrupção da dissertação de Bruno Kräulich, de 28 anos, uma das vítimas do incêndio na Kiss, que fazia mestrado em Agronomia na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), vai retardar a produção de conhecimentos no manejo de lavouras de soja no Rio Grande do Sul. O estudo ligado à oleaginosa, principal cultura agrícola do Estado, vai ser tocado adiante pela equipe que o auxiliava, prevê o orientador de Kräulich, Nereu Augusto Streck. Mas seu nome será sempre mencionado entre os autores das publicações científicas que vierem a ser produzidas.O difícil, porém, será formar outro profissional no mesmo nível de Kräulich. "Seriam necessários de três a quatro anos", afirma Streck. Isso porque o projeto requer alguém que já esteja ou venha a ingressar na graduação para estudos específicos em Fenologia, ramo da Ecologia que estuda os fenômenos periódicos dos seres vivos e suas relações com as condições do ambiente.Esse conhecimento estava associado aos estudos que Kräulich vinha fazendo do ciclo da soja - nos últimos anos, os agricultores gaúchos passaram a apostar em novas variedades, mais precoces, para driblar o fenômeno climático da falta de chuva no verão. Ele apresentaria a dissertação em julho ou agosto e, em seguida, partiria para a seleção do doutorado. Depois, tentaria complementar os estudos na Universidade de Nebraska, nos Estados Unidos. "Quando conversávamos, ele demonstrava claramente que esses eram seus sonhos", conta Streck.Mariana Moreira Macedo, de 19 anos, aluna do 4.º semestre de Meteorologia na UFSM, integrava o grupo de pesquisa da soja. Ela auxiliava Kräulich com coleta de dados e também morreu. "Ela demonstrava grande interesse por Agrometeorologia e continuaria estudando Modelagem de Culturas Agrícolas."Streck diz que a tragédia, de "tamanho incalculável", abalou a todos e ensinou que "a ciência por ciência não faz sentido, o que faz sentido são os seres humanos". Ele prevê que as perdas serão sentidas por muitos anos, até que, ao menos, seu último integrante do atual grupo de pesquisa saia da universidade.

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