SÃO PAULO - Há 13 anos, Everaldo Lagarto, de 61 anos, acorda cedo e inicia uma tarefa que jamais conseguirá terminar: a de limpar o Rio Tietê. Com um barco de madeira, ele navega no meio do lixo e recolhe as ilhas de garrafa PET que se formam no curso d'água na altura de Santana de Parnaíba, na Grande São Paulo. Em sociedade com o cunhado, chega a recolher mais de duas toneladas por mês. A montanha de plástico não rende mais de R$ 2 mil para os dois. O carroceiro flutuante afirma que já viu de tudo por ali. Até dinheiro. A única coisa que nunca encontrou em mais de uma década foi um peixe vivo nadando pelo rio. "Isso entristece porque o Tietê é uma obra de Deus. Mas, ao mesmo tempo, é meu ganha pão."A reportagem encontrou Lagarto na última terça-feira, por volta das 10h, quando ele se esticava para recolher garrafas com as mãos. Ao ser chamado, veio remando até a margem. Deu bom dia, desceu do barco, tirou as luvas - duas em cada mão - e abriu uma garrafa de café bem quente. "Estão servidos?", ofereceu. Apesar do jeito tímido, Lagarto se solta ao falar como é a vida navegando no meio do lixo que as cidades da Região Metropolitana de São Paulo despejam no rio. O bote dele esbarra em pneus, capacetes, bolas de futebol, chapéus, cadáveres. "Tem coisa que eu vejo aqui que é melhor nem falar."