A mística em torno das facções no Rio de Janeiro começou em 1981, quando Zé Bigode, cofundador do Comando Vermelho, refugiou-se no Conjunto dos Bancários, na Ilha do Governador, trocando tiros com 400 policiais por 10 horas até ser morto.
Com um bom fornecedor de cocaína, entre 1983 e 1986 o Comando dominou as bocas de fumo tradicionais, tocadas por pequenos traficantes de maconha. Em 1985, já detinha 70% dos pontos de venda em um grande e lucrativo mercado.
Em São Paulo, desde os anos 1970, quando as taxas de crime começaram a crescer, pequenas células isoladas de criminosos se equilibravam parcamente, correndo o risco de serem caçadas por justiceiros, policiais e criminoso rivais.
O roubo sempre foi o negócio principal. O tráfico de drogas só se fortaleceria em São Paulo depois dos anos 1990, com a chegada do crack.
Entre 1981 e 1996, o roubo em São Paulo cresceu em média 9% ao ano. Enquanto no Rio os criminosos se vinculavam a facções que dominavam territórios nos morros, em São Paulo os integrantes do mundo do crime se relacionavam de igual para igual, como indivíduos, pisando em ovos e disputando poder em territórios conflagrados, onde viviam sob risco de matar ou morrer a qualquer momento.
Nessa estrutura criminal sem hierarquia, horizontal, sobravam oportunidades e motivos para vinganças e assassinatos banais. "Ninguém é melhor do que ninguém" sempre foi uma frase repetida nesse cenário igualitário e instável das redes criminais paulistas. Na prática, jovens desconfiavam de outros jovens, vistos como homicidas em potencial, e matavam motivados às vezes por conflitos banais.
Origem. É nesse contexto de mata-mata e desordem que o Primeiro Comando da Capital começou a se formar nas prisões em 1993. E a se fortalecer, com discurso que propunha fim das mortes de integrantes do crime e incentivo a negócios ilegais.