PCC deu a ordem para matar 6 PMs entre os dias 12 e 23

Grampos da inteligência estadual indicam que ação criminosa pretende desestabilizar a tropa e o comando da segurança pública

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Foto do author Marcelo Godoy
Por Bruno Paes Manso e Marcelo Godoy
Atualização:

A análise de interceptações telefônicas feitas pela inteligência policial nos últimos dias já permite às autoridades afirmar que a ordem para os seis assassinatos de policiais ocorridos entre os dias 12 e 23 de junho partiu de integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC). Grampos detectando a ordem foram interceptados pelo Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic), pelo Departamento de Investigações sobre Narcóticos (Denarc) e pela Divisão Antissequestro (DAS) do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Em uma dessas escutas, revelada na terça pelo Estado, há o diálogo entre um traficante da zona leste e um homem não identificado. O criminoso dizia: "Libera os meninos para sentar o pau nos polícia".De acordo com as investigações, o objetivo das ações é desestabilizar a tropa policial e a cúpula da segurança em São Paulo. Nas investigações, não apareceram indícios de que a facção tenha ordenado os incêndios a ônibus, que somaram 11 nesta semana. Conforme o Estado mostrou ontem, moradores do Capão Redondo, na zona sul, afirmaram que os ataques a transporte público eram uma reação à violência policial. Um dos autores do atentado a um ônibus queimado no bairro usava a camisa com os dizeres: "si continua matando, nós continua queimando". Ao contrário do que ocorreu em 2006, quando policiais militares foram mortos durante o serviço, a estratégia desta vez é matar os policiais quando eles estão de folga ou trabalhando em bicos. As Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) são apontadas como o principal inimigo.Integrantes das Polícias Civil e Militar, que atuam nos territórios do crime organizado, seriam tolerados por firmarem "acordos" de convivência pacífica com os traficantes, inclusive de pagamento de propina. Mas a ação violenta de policiais da Rota desfaz esse equilíbrio e por isso provocou a reação mais recente dos bandidos.A frieza e o planejamento dos homicidas já haviam chamado a atenção dos PMs que testemunharam a morte dos colegas. No dia 12 de junho, o soldado Valdir Inocêncio dos Santos foi assassinado na frente do filho, de 21 anos, e do sobrinho, que observou o crime da fachada. No Instituto Médico-Legal (IML), a legista retirou 29 balas calibre 380 de seu corpo. Santos morreu nos braços da mãe.O soldado estava dormindo no sofá da sala quando uma Saveiro bateu lentamente no portão de sua casa. Ele foi ver o que era. O motorista do carro saiu na direção de uma escola. O policial foi atrás, pedindo ao motorista para parar. Foi quando cinco homens saíram de trás dos muros e começaram os disparos. "Foi premeditada, assim como ocorreu nos outros assassinatos de policiais. Isso mostra a ação do crime organizado por trás dos crimes. O soldado Valdir (Santos) era um policial exemplar. Quando reformou a casa, passou a ajudar a mulher a vender bijuteria para complementar a renda. Deixou três filhos e uma família em cacos, traumatizada com o episódio", diz o soldado Márcio Ramos, que trabalhou com Santos na Força Tática do 7.º Batalhão entre os anos de 1998 e 2002.R$ 20 milhões. A análise da contabilidade de integrantes do PCC, apreendida há pelo menos três meses pela Polícia Civil, aponta que o faturamento mensal com comércio de drogas em São Paulo rende à cúpula da facção criminosa R$ 20 milhões. Segundo a inteligência policial, o tráfico lava o dinheiro arrecadado principalmente em agências de automóveis, postos de gasolina e lotações.O Paraguai é o principal fornecedor de maconha do PCC. O plantio de maconha no país movimenta US$ 160 milhões. Investigações da Polícia Federal obtidas pelo Estado mostram que os membros do PCC no Paraguai se fixam principalmente nas cidades de Pedro Juan Caballero, Capitán Bado e Salto de Guaira, coincidentemente as cidades de reconhecida produção e travessia de drogas, principalmente maconha e cocaína. A facção conta com grandes fornecedores nesses locais, situação que permitiu ao grupo entrar no atacado das drogas em São Paulo.

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