06 de fevereiro de 2013 | 02h05
"A nossa viagem para Florianópolis para comemorar a formatura do ensino médio foi planejada durante um ano. Na saída, na porta do Colégio Oswald de Andrade (em São Paulo), na semana passada, os pais fizeram as mesmas recomendações: 'Cuidado com as baladas' ou 'A primeira coisa que você vai fazer quando entrar é ver onde fica a saída de emergência, ok?'
Todos estavam preocupados com a recente tragédia de Santa Maria (que deixou 238 mortos, vítimas do incêndio na boate Kiss, na madrugada do dia 27, no RS). Apesar de tudo, o clima estava tranquilo até quinta-feira à noite (dia 31), quando nos preparávamos para sair para a balada na boate El Divino. Eu estava no quarto do Hotel Maria do Mar, conversando com os monitores da agência que organizou a viagem, quando avistei pela janela um fogaréu enorme no portão, a 300 metros. 'Tá pegando fogo! É sério!', gritei assustada.
Parecia brincadeira de mau gosto, mas havia realmente um incêndio na porta do hotel. Um ônibus havia sido incendiado no meio da rua. Algumas pessoas filmavam com o celular, outras pediam socorro e tentavam chamar os bombeiros e a polícia. Um dos monitores logo explicou: 'Foi um ataque de um grupo igual ao PCC (Primeiro Comando da Capital), só que de Santa Catarina'.
O clima ficou tenso quando apareceu um helicóptero e a notícia de que havia mais ônibus queimados na cidade. Os bombeiros demoraram a chegar. Concluímos que era melhor ninguém contar aos pais, apenas darmos sinal de vida porque não adiantaria nada.
Não pudemos sair do hotel, já que o ônibus obstruía a passagem. O jeito foi nos divertirmos ali mesmo, na área de lazer. E até que acabou sendo bem gostoso ficar todo mundo junto após aquele susto. No dia seguinte, quando saímos rumo à Praia Mole, só havia uma grande mancha preta no asfalto e na calçada. Apesar do medo, seguimos viagem, curtindo a linda Florianópolis. Mas com a tristeza de saber que nem aquele paraíso escapa da violência."
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